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28 de setembro de 2010

ORAR OU BAJULAR?

No capítulo 12 de Atos encontramos uma interessante narrativa cuja personagem centralizadora é o rei Herodes. Ele age contra os cristãos ao prender, maltratar e até matar alguns líderes importantes da época. Por esta causa, Tiago é morto e Pedro é preso. Um pouco mais à frente nos deparamos com uma grave desavença entre este rei, os tírios e os sidônios. Em suma, Herodes estava se opondo à Igreja e aos habitantes de Tiro e Sidom. É neste contexto que se desenrola a atitude tomada por cada grupo para resolver a questão.

De um lado está a Igreja diante de uma perseguição mesquinha, politiqueira e injusta. E o que ela faz? Segundo Lucas “havia oração incessante a Deus”. Os cristãos levantaram um grande clamor para que a situação fosse resolvida. O resultado foi o envio de um anjo para libertar a Pedro da prisão, um milagre tão extraordinário que o próprio apóstolo custou a acreditar no que estava acontecendo. O mesmo ocorre com os irmãos que estavam em oração.

Em seguida Lucas descortina o impasse entre Herodes e as cidades de Tiro e Sidom. Para resolver o problema o povo foi em busca de um certo camareiro chamado Blasto, alguém que hoje poderia ser decifrado como um tipo de assessor direto. Afinal, eles dependiam do abastecimento do rei. Como resultado do encontro, fica acertado um dia em que Herodes iria se apresentar a uma multidão para discursar, fazendo-nos lembrar os comícios atuais ou as apresentações públicas de um político. A bajulação é geral quando o povo chama o governante de deus – prática comum da época. Neste momento o Senhor envia o seu anjo para matar o rei (penso se não seria o mesmo anjo que libertara a Pedro).

Um problema quase idêntico, dois povos, duas atitudes distintas, duas respostas de Deus. Com base neste fato, eu gostaria de fazer algumas considerações:

1) Em política a nossa esperança deve ser o Senhor pela oração. Quando a Igreja enfrenta um problema que está acima do seu poder de decisão, resta apenas orar em submissão ao Senhor. Isso não se aplica apenas aos problemas políticos que sofremos, mas também quando padecemos devido a um salário curto, perseguição no trabalho etc. Veja que eu não estou dizendo que o crente deve ser sempre passivo no desenrolar das práticas sociais, creio até que podemos protestar, refletir e até lutar pelos nossos direitos constitucionais, mas isso não pode ultrapassar a moral cristã que é totalmente embasada no amor e na submissão ao reto Juiz e supremo Governante;

2) Em política a nossa visão não deve se restringir ao egoísmo. A visão política deve incluir a sociedade e não apenas os meus interesses particulares. O povo de Deus não deve se aproveitar da política para benefício pessoal ou religioso restrito, principalmente quando ocorrem mediante os conchavos escusos, as promessas irresponsáveis, os desejos que visam apenas uma pequena parte da sociedade e a bajulação em troca de favores. Os governantes não devem ser vistos como se fossem semi-deuses para a resolução dos problemas. Fazer isso é retirar do nosso Deus a glória devida. Respeitar os políticos conforme a lei, sim; bajular, nunca!

3) Em política a nossa identidade é o Reino de Deus. Muitas vezes falta em nós, cristãos, a visão que distingue a Igreja do Estado (tais terminologias devem ser interpretadas conforme a História). O frenesi das campanhas eleitorais parece mais um desfile de moda onde cada um admira aquilo que deseja consumir. Nossa consciência deve se firmar a partir das Escrituras, ou seja, devo agir como um cidadão do Reino de Deus que peregrina nesta terra, e não como um cidadão da terra que peregrina no Reino de Deus. Nossa maior submissão continua sendo ao Senhor. E, pelo que entendo, isso não vai mudar por toda a eternidade.

Lucas encerra a seção dizendo que “a palavra do Senhor crescia e se multiplicava”. Creio que esta é a nossa maior meta, muito acima dos nossos interesses pessoais, dos nossos direitos sociais ou das nossas preferências partidárias. Caso haja algum problema, a melhor pessoa para resolvê-lo é o Senhor Deus que “não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” Como os políticos e governantes estão eternamente longe deste caráter! Como nós somos bem aventurados por depositar a nossa esperança neste maravilhoso Deus.

Alfredo de Souza

SOLA SCRIPTURA

23 de setembro de 2010

A Reforma Começa em Casa

Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações.” (I Pe. 3:7)


A necessidade de Reforma na Igreja é absoluta. Há desmandos, desvios, devaneios e engano por toda parte assolando a Noiva de Cristo.

Ao ser perguntado onde reside o problema, o crente é rapidamente (e corretamente) levado a apontar o dedo para Adão e Eva. Mas eu creio que Adão, primordialmente, foi responsabilizado em Gn. 3:17, de onde deriva um ensinamento que nós, homens (sexo masculino e não a humanidade), precisamos assimilar.

Quero advogar que qualquer Reforma que precisarmos estabelecer na Igreja só poderá ser completa se começar em casa. A família precisa ser conduzida pela Palavra de Deus e cada membro da casa deve entender o papel que Deus estabeleceu na Bíblia.

Mas esse breve artigo, como já indicado, tem endereço certo: o homem! Não apenas Adão recebe a responsabilidade pela queda, - mesmo Eva tendo sido aquela que foi enganada (I Tm. 2:14) - mas nesse texto (I Pe. 3:7), o Apóstolo trata da responsabilidade do homem na casa. Dele, vejamos alguns princípios:

Viver a vida comum do lar

Há a idéia errada de que o casamento correto é de um senhor e uma escrava, onde a mulher serve apenas para satisfazer os desejos do seu homem; mas Pedro, sem negar que a responsabilidade da casa seja tarefa feminina, não o faz sem declarar que o homem deve, sim, participar com alegria e disposição da vida comum do lar.

Viver a vida comum do lar com discernimento

Esse talvez seja o ponto mais difícil, pois o discernimento requer compreensão; e todos sabemos que compreender as criaturas femininas é tarefa para gênios. :) Brincadeiras à parte, é dever do homem buscar entender a sua esposa, o que o leva ao próximo ponto:

Ter consideração pela mulher, como parte mais frágil

Há uma imprecisão no significado de ser a parte mais frágil, contudo, quando os homens assumirem realmente o seu papel, as mulheres compreenderão que é grande privilégio para elas serem assim, frágeis; pois o homem precisa tratá-la com dignidade, cuidando, protegendo, provendo, assumindo sempre toda responsabilidade, assim como Cristo assumiu toda responsabilidade (e até mesmo) a culpa por todos os erros de sua noiva: a Igreja.

• Porque sois juntamente herdeiros da mesma graça

Longe de Pedro entender que as mulheres são inferiores, ao contrário, elas devem ser consideradas Rainhas da casa e bem cuidadas pelo marido, uma vez que são herdeiros da mesma graça de vida. Há aqui uma interdependência, como Paulo ensina em I Cor. 11:11 que nem a mulher é independente do homem e nem o homem é independente da mulher.

Para que não se interrompam as vossas orações

E aqui termina esse versículo, trazendo a maior responsabilidade do homem: Cuidar para que a vida espiritual e piedosa da família seja levada de forma perfeita no lar. Ele é responsável por preservá-la de forma linda e sem ruga (Ef. 5) espiritualmente para Deus.

Como vimos aqui, de forma breve, ser homem segundo a Bíblia não é fácil, pois nossa sociedade tem dado à mulher papéis masculinos exatamente para que os homens transfiram a sua responsabilidade para ela; como já o nosso cabeça federal nos ensinou em Gn. 3:12: foi a mulher que tu me deste por esposa.

Graças a Deus pelo Segundo Adão, que assumindo a culpa da amada, nos adverte, pelo seu Apóstolo, apontando seu exemplo, dizendo em Ef. 5:25: Amai vossas esposas, assim como Cristo amou a Igreja, e a si mesmo entregou por ela.

Que os maridos assumam o seu papel, pois A Reforma Começa em Casa, e isso, nas mãos daquele que é o responável; sejamos homens verdadeiros e comecemos a reformar a nossa casa.


                            Pr. Samuel Vitalino


20 de setembro de 2010

Carta ao irmão Commodus Alienatus

acomodado

Caro irmão Commodus,

Agradeço por você ter concordado em respondê-lo aqui mesmo no blog Bíblia com Isso. De fato, seus questionamentos se assemelham ao da grande maioria dos evangélicos brasileiros. Desde já recomendo a você a leitura dos dois artigos publicados pelo Pr. Eduardo que abordam questões pertinentes ao período das eleições em nosso país: Política, e a Bíblia com isso?, e Brasil, Ame-o ou Deixe-o. Eles ajudarão e muito na sua reflexão.

Como conversamos anteriormente, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) não possui o “candidato dos presbiterianos” para representa-la junto aos poderes executivo ou legislativo. Mas por quê? Porque a IPB entende que todo o cristão é livre para escolher seus candidatos sem nenhuma pressão ou imposição religiosa, e que os líderes governamentais não devem legislar ou trabalhar em prol de um segmento (religioso ou social), mas dos interesses de todos os cidadãos. Inclusive achei muito estranho o pronunciamento do presidente do Supremo Concílio da minha  denominação recomendar nomes de candidatos (inclusive pastores) para os cristãos presbiterianos no Portal Oficial da IPB. Além de não ser competência nossa, pois somos ministros da Palavra, entendo que para isso existe a propaganda política partidária não é mesmo?

Contudo, assim como nas demais áreas da vida cristã é dever da Igreja de Cristo e seus pastores usarem a Escritura para ensinar e orientar os fiéis sobre o exercício da cidadania através da escolha correta e coerente daqueles que governarão a nossa cidade, o nosso Estado e o nosso País. Mas, sem mais delongas,vamos as suas perguntas:

Pastor, é certo o cristão votar em pastores que se candidatam a cargos públicos? Por quê?

Resposta: Não. Em primeiro lugar, porque o Novo Testamento não menciona como parte do ministério pastoral o envolvimento do pastor com cargos públicos. Em segundo lugar, porque o chamado pastoral é o da liderança espiritual e não o da militância política. A Bíblia afirma que a liderança na igreja pode ser almejada, porque esta é uma obra excelente (1Tm 3.1). A questão não é se Deus pode chamar cristãos para a vocação política, mas se Ele vocaciona pastores para o palanque ou para os púlpitos. Veja só: Aquele que é chamado para ser pastor (1) deve ser apto para pregar e ensinar o Evangelho aos homens, (2) dedicar-se à oração e estudo das Escrituras, (3) visitar os enfermos e aconselhar as ovelhas do nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente, muitos pastores estão vendendo o seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, e isso não é bom. O argumento? “Como político poderei exercer uma influência ainda maior, lutando pelos interesses do povo de Deus”. Esses pastores insultam a Deus porque consideram o ministério da reconciliação algo de somenos importância.

Portanto, todas as vezes que você se sentir inclinado a votar em um homem que se diz pastor, lembre-se que o nosso Senhor Jesus Cristo, abdicou de sua glória para pastorear as suas ovelhas. Deus tomou o seu único Filho e o fez um pregador. Satanás lhe ofereceu todos os reinos do mundo, mas Ele continuou firme em seu propósito de pregar o Reino de Deus aos homens. Quando Ele retornou a presença do Pai, após a sua ressurreição, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens, fazendo muitos “… pastores e mestres”, líderes espirituais que vivem o dia-a-dia da igreja com a finalidade de aperfeiçoar os crentes e edifica-los (EF 4.11-13). A verdade é que se alguém diz ser pastor, mas deseja a política, nunca compreendeu a sublimidade do ministério pastoral.

Mas pastor, porque me preocupar com política se tudo vai bem?

Resposta: Na semana passada estava assistindo um cientista político falar sobre um fenômeno comum nos países democráticos: o comodismo que bloqueia o senso crítico ou questionador no pensamento político do cidadão. Vamos chamar isso de síndrome do tudo vai bem. Os afetados por esta síndrome não dão a mínima para o que acontece no cenário político do seu país. Eles simplesmente votam no candidato que oferecerá potencialmente melhores vantagens. E se tudo vai bem, porque mexer? Em time que joga bem não se mexe, diz o ditado popular não é mesmo?

Deixe-me lhe dar uma ilustração. Em Aracaju cidade onde eu moro, nós temos uma orla marítima maravilhosa. A Orla da Atalaia possui dentre outras atrações um belo lago. Todos os dias moradores da cidade ou turistas oferecem algumas migalhas de pão aos patinhos que vivem no lago da Orla de Atalaia. Eles estão tão condicionados que basta alguém chegar à beira do lago que saem nadando em fila até você. Eles não estão preocupados com a qualidade ou conteúdo das migalhas, porque o importante é que você dê o que eles querem. Pobres patinhos! Podem até mesmo ser sequestrados ou envenenados, mas não questionarão. Tudo vai bem para eles. E se tudo vai bem, pra que desconfiar?

O problema é que o mesmo ocorre com a nossa consciência política. O aparente senso de tranquilidade pode ser rapidamente identificado enquanto estamos à mesa jantando e ao mesmo tempo assistimos na TV uma criança viajar todos os dias com fome, doente, quilômetros a pé para chegar a sua escola que está totalmente deficiente, com professores mal remunerados, e constatamos que isso não mexe mais com a gente. Para muitos cristãos a conclusão é lógica: Deus é soberano, nada acontece sem sua permissão, logo, é melhor não gastar tempo me preocupando com o que acontece ao meu redor.

Não importa se o passado do meu candidato é sujo, se ele se envolveu com toda sorte de corrupção imaginável e inimaginável. Se ele é evangélico e mesmo assim rouba o leite das crianças, a educação dos estudantes, a saúde dos doentes e coloca tudo dentro de sua cueca. Não importa se o meu candidato defende e apoia a união de pessoas do mesmo sexo, se ele deseja que crianças abandonadas sejam adotadas por gays ou lésbicas ou pretende censurar a liberdade de expressão. Muito menos importa se ele defende que uma mãe motivada por razões egoístas decida abortar o seu filho no nono mês de gravidez, pois dela é a barriga, faça como quiser!

E sabe por quê? Porque se eu tenho o meu salário, bolsas e mais bolsas, créditos e mais créditos, se eu tenho pão e leite, bens móveis e imóveis, e todos os políticos são da mesma laia, o que me importa de verdade é garantir o que é meu. Você pode dizer, por favor, não seja tão pessimista ou tão apocalíptico pastor! O problema meu prezado Alienatus é que tal síndrome muito mais anestesia ou condiciona a consciência do que desperta o cidadão para o verdadeiro sentimento que deveria ser marcante na vida política – o serviço público. A grande verdade é que para a grande maioria, e isso inclui um grande número de crentes, o público não é meu.

O cristão não deve se esquivar de sua responsabilidade política, pois Deus o chama a obedecer e honrar as autoridades constituídas por Ele no mundo em que vive (Rm 13.1-6). Obediência e honra significam também oração, envolvimento e cooperação. Santo Agostinho há muito tempo atrás definiu a política como a forma mais elevada de caridade possível na terra. Se exercida, legislada e aplicada corretamente a política pode se tornar um grande instrumento de bênção para a nossa nação. Isso se prova bíblica e historicamente. O reino de Israel ou as nações que abraçaram a fé reformada no século XVI vivenciaram esta benção enquanto submeteram seus governos e governantes a Deus.

Caro Comodus, quando você vê as mesmas caras na televisão, com o mesmo blá, blá, blá de sempre pedindo mais uma vez o seu voto de confiança, qual tem sido a sua reação? O que você acha que Deus pensa sobre tudo isso? Se você perdeu o senso político-crítico, cuidado! A síndrome do tudo vai bem te pegou!

Sinceramente,

Pr. Alan Kleber

Nota:

Esta carta e seu destinário são fictícios. Qualquer semelhança com o grande número de evangélicos politicamente acomodados e alienados é mera coincidência.

17 de setembro de 2010

As seitas cristã-judaizantes em pleno século XXI

Há alguns dias descobri que em Porto Velho, cidade onde moro, existe uma igreja judaizante. Ela é confusa em sua interpretação da Bíblia, em sua liturgia, na orientação da prática da vida cristã, no seu linguajar sectário e em outros comportamentos que caracterizam esta facção evangélica. Sei que o movimento de retorno às raízes judaicas está crescendo em todo o Brasil e produzindo um grupo de consumidores de parafernálias e superstições evangélicas com trejeitos israelenses. Deste modo, alguns objetos são introduzidos e usados no culto cristão como o toque do shofar [1], o kipar [2], e um véu que lembra os fariseus dos filmes bíblicos, chamado talit [3], a menorá [4] sobre a mesa da Ceia do Senhor, compõe o montante de objetos sagrados indispensáveis para o movimento. No dia a dia estimulam nos seus membros o hábito alimentar estilo kosher [5]. Parece-me que isto tudo é resultado de uma teologia fast food, articulada por uma mente superficialmente criativa e de respaldada ignorância bíblica, com uma mistura de cultura israelense contemporânea e uma pitadinha do esoterismo evangélico. Certamente os donos de lojas de artigos judaicos estão apreciando essa conversa toda!

Não perdendo a oportunidade os músicos gospel têm contribuído com a produção musical do gênero. Assim, a produção de cânticos que se assemelham mais ao lamento dos judeus pela sua incessante esperança de que o Messias ainda virá, ou a tristeza pela incompleta possessão do território da Palestina. Outras opções menos chorosas e com maior entretenimento são aquelas melodias que nos lembram o dançante folclore israelense.[6] Quando cantadas nos cultos assemelham-se mais a uma sinagoga, ao bate-testa no Muro das Lamentações, ou pulular teatral dos grupos folclóricos judeus, e não propriamente uma igreja cristã, aos gritos e invocações de Iehoshua Hamashiah, e outras palavrinhas hebraicas na base do decoreba.

Este teimoso retorno às coisas ultrapassadas do Judaísmo é um esforço antigo. No Novo Testamento os apóstolos enfrentaram a incoerência do pensamento judaizante infiltrando-se na Igreja. O primeiro concílio se reuniu para deliberar sobre consulta de práticas judaicas (At 15:1-29). Também Paulo escreveu a epístola aos Gálatas, porque toda aquela região, incluindo várias igrejas locais, estava contaminada pelo legalismo hebreu.[7] O próprio apóstolo Pedro teve o seu momento de imaturidade judaizante, e por este motivo foi repreendido (At 10-11; Gl 2:11-21). Desde os primórdios existiram seitas alegando terem a verdadeira doutrina, à parte da Escritura, acrescentando novos ensinos e estranhas práticas à sua versão personalizada de Cristianismo. Grupos judaizantes surgiram no fim do século I, os três mais conhecidos foram os Nazarenos, os Elquesaítas e os Ebionitas, sendo o último de maior dano para a Cristandade primitiva.[8]

Como toda heresia o movimento judaizante na Igreja do século XXI tem as suas incoerências bíblico-teológicas. Digo incoerência porque eles querem arbitrariamente selecionar segundo a sua predileção, e convenientemente somente o que é fácil de obedecer, sem realmente explicar consistentemente com a Escritura Sagrada os motivos de suas crenças. Alerto para alguns perigos que este movimento, em todas as suas formas e sincretismos, bem como inovações multifacetadas oferece:

1. O movimento de retorno às raízes judaicas produz uma confusão quanto à transição da antiga para a nova aliança. A antiga aliança teve início entre Deus e Adão, e se estendeu até o cumprimento do derramar do Espírito Santo sobre toda a Igreja. No Pentecostes há o ápice da transição da antiga para a nova aliança, tendo a sua nova administração sob a obra consumada de Cristo. “Em Cristo” temos os benefícios da nova aliança, bem como a sua estrutura é adaptada, como por exemplo, a substituição da circuncisão pelo batismo, a guarda do Shabath pelo Domingo, a cessação das leis alimentícias, etc., e nisto percebemos continuidade e descontinuidade da antiga para a nova administração da aliança. O autor da Epístola aos Hebreus ensina acerca da finalização, a transição, o cumprimento e a consumação da antiga aliança, bem como do início da nova aliança em Cristo.[9]

2. A tradicional e didática divisão da Lei é ignorada. Embora na linguagem dos autores bíblicos eles mencionem apenas a palavra “lei”, precisamos ser hermeneuticamente justos ao sentido intencionado pelo autor e de aplicação da palavra em seu contexto. Mesmo usando o mesmo termo, nem sempre, os autores utilizavam no mesmo sentido a palavra “lei”. Tradicionalmente os teólogos têm categorizado a Lei da seguinte forma: civil, cerimonial e moral. Para o estudo deste assunto indico a leitura de Mauro Meister, Lei e Graça (Editora Cultura Cristã), págs. 41-59. Resumindo conversa, sabemos que o uso civil cessou com o fim de Israel, enquanto nação teocrática, o aspecto cerimonial se cumpriu em Cristo, em sua obediência ativa, sofrimento e sacrifício expiatório e no seu ofício de sumo-sacerdote; todavia, o uso moral da Lei tem a sua continuidade até a segunda vinda de Cristo. O que esta heresia intenta é seletivamente impor a observância de determinadas leis civis e cerimoniais e costumes judaicos contemporâneos como parte do processo de salvação, ou apenas de santificação dos crentes sob a administração da nova aliança.

3. O movimento judaizante nega a suficiência do sacrifício de Cristo. Creio que aqui está a essência da heresia judaizante. Segundo as Escrituras, nunca ninguém foi salvo pela obediência pessoal da Lei. Todos são salvos pela obediência de Cristo, que mereceu o favor do Pai, e que substitutivamente foi punido em nosso lugar, sofrendo a condenação dos nossos pecados; e, esta salvação foi aplicada retroativamente na antiga aliança e atualmente na nova aliança. Nem no Antigo Testamento o uso cerimonial da Lei foi exigido como requisito para salvação dos crentes da antiga aliança. A tentativa de se obedecer às exigências cerimoniais da Lei como complemento de redenção ou santificação, interpretando serem as práticas da dieta alimentar, o linguajar hebraico mal pronunciado na conversação comum e na liturgia do culto e outras estranhas adições, somente testemunha o seu entendimento confuso da obra redentora de Cristo. Talvez, em parte isto explique a substituição em alguns templos ou salões de culto, onde excluem o símbolo da cruz e optam por colocar a estrela de Davi.[10]

4. Existe uma predisposição latente para o Unitarismo. As antigas seitas cristãs judaizantes tenderam, e por fim se tornaram unitaristas, ou seja, negaram a doutrina da Trindade. Parece que isto aconteceu por afirmarem somente a unicidade do Pai enquanto Deus, e por gerarem conflitos quanto à divindade e humanidade de Cristo.

5. A esquisita espiritualidade ritualística por meio de símbolos não-cristãos. Todos os objetos mencionados no início deste artigo, desde filactérios até a bandeira israelense, são venerados e usados tanto no momento de culto, como diariamente como amuletos. Durante alguns cultos a réplica mal feita da arca da aliança é carregada, tocada, rodeada por dançarinos, ou como ato de consagração. Estes são alguns exemplos desta espiritualidade irracional e não-bíblica, em que as pessoas cultuam, oram, cantam, e exercitam a sua crença segurando ou vestindo estes e outros objetos. Isto é no mínimo muito estranho ao ensino da Escritura Sagrada!

Preocupa-me que o movimento seja crescente, e ao mesmo tempo visto ingenuamente como se não oferecesse perigo. Os apóstolos e os primeiros cristãos rechaçaram os judaizantes por ser uma pedra de tropeço para a pregação universal do evangelho de Cristo, e também por não ser esta doutrina ensinada e nem as suas práticas exigidas por Jesus. Realmente houve na Igreja neotestamentária a tentativa por alguns de fazê-la voltar às práticas e crenças do Judaísmo, todavia, os discípulos discerniram sob o ensino do Mestre, que eram coisas ultrapassadas no processo da história da redenção, e retroceder era negar o progresso da revelação comunicada pelo Espírito Santo, e ao mesmo tempo a consumação da perfeita obra de Cristo.

Permita-me apenas lembrá-lo que nada há de novo em termos de heresia. Ela apenas recebeu uma nomenclatura e configuração nova, conjugando algumas idéias da nossa época em que os seus proponentes vivem e são influenciados. O que torna aparentemente nova esta estranha prática eclesiológica é que ela é comunicada num discurso pós-moderno e sob a influência de modismos pentecostais.[11]

NOTAS:
[1] Para os curiosos acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/Shofar .
[2] A origem medieval deste acessório não despertou o seu uso universal entre os judeus da época. O seu propósito é “diferenciar os judeus dos gentios, particularmente dos cristãos, que descobrem a cabeça na igreja.” http://israel.chai.tripod.com/id3.html .
[3] Este véu litúrgico era usado tradicionalmente pela liderança masculina. http://www.jesuspaintings.com/decorative-flag/showfar_blower_talit.htm
[4] A menorá ou menorah é o candelabro usado na época do Tabernáculo de Moisés e posteriormente no Templo de Jerusalém, que tinha a principal função iluminar, mas agora virou acessório estético da mesa da Ceia ou do púlpito. http://israel.chai.tripod.com/id4.html .
[5] Alimentos kosher são todos aqueles que obedecem à lei judaica quanto à higiene.
[6] Para um exemplo aqui em Porto Velho acesse http://www.youtube.com/user/diegoppt .
[7] Carson, D.A., D.J. Moo, Leon Morris, Introdução ao Novo Testamento (Edições Vida Nova), págs. 319-334.
[8] Estas seitas foram irrelevantes para a formação teológica da Igreja Primitiva. Mesmo reacionariamente os primeiros cristãos apenas firmaram o que haviam recebido dos apóstolos. As suas heresias podem ser conhecidas em seus escritos apócrifos como O Evangelho dos Nazarenos, O Evangelho Segundo os Hebreus e O Evangelho dos Ebionitas. Para uma leitura complementar de estudos das seitas judaizantes primitivas veja Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica (Editora Paulus), págs. 150-151; Louis Berkhof, A História das Doutrinas Cristã (PES), págs. 42-43; Bengt Hägglund, História da Teologia (Editora Concórdia), págs. 25-26; Roque Frangiotti, História das Heresias (Editora Paulus), págs. 7-11.
[9] Como este texto não é um artigo de teologia bíblica, recomendo para estudar melhor este assunto: O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos (Editora Cultura Cristã); O. Palmer Robertson, Alianças (Editora Cultura Cristã); O. Palmer Robertson, O Israel de Deus – passado, presente e futuro (Editora Vida); Gerard van Groningen, O Progresso da Revelação no Antigo Testamento (Editora Cultura Cristã); Gerard van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento (Editora Cultura Cristã); Gerard van Groningen, Criação e Consumação (Editora Cultura Cristã), 3 volumes; Geerhardus Vos, The Teaching of the Epistle to the Hebrews (P&R Publishing); Geerhardus Vos, Biblical Theology (Banner of Truth).
[10] Em geral, os adeptos deste movimento adotam uma escatologia Dispensacionalista ou até mesmo Ultradispensacionalista, em que ensina que os judeus possuem privilégios especiais acima e além dos gentios, ou até mesmo que serão salvos, simplesmente por serem judeus, independentemente de crerem em Cristo como o seu salvador pessoal, ou não!
[11] Caso queira ler um artigo com imagens em que se comprova a tese, acesse.

13 de setembro de 2010

Cuidado! Levitas na lagoa

jacaré3_thumb[5] No mundo animal o temido jacaré tem a parte da barriga formada por um couro mais fino que o restante do corpo, o que torna essa parte mais vulnerável a ataques. Vem daí o ditado popular que diz que “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”. A intenção do dito é clara, mostrar que as pessoas devem ser precavidas e não se expor a eventuais perigos.

Quando escreveu aos colossenses, Paulo também advertiu aqueles irmãos para que fossem precavidos: Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8). Aos efésios (4.11-14) ele afirmou que para os crentes não serem enredados foram concedidos “dons de ensino”. A razão de ser desses dons é para que não sejamos “levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.

Não só nas epístolas paulinas, mas também em outras cartas do NT temos vários avisos para ter cuidado com os falsos ensinos e a afirmação de que o “instrumento de aferição” do ensino é sempre a sã doutrina, ou seja, o que a Escritura ensina.

Vivemos um tempo confuso no que diz respeito a doutrinas. Na medida em que as igrejas evangélicas têm se multiplicado, multiplica-se também a confusão. Podemos observar muitas pessoas ensinando supostas revelações de Deus, mas sem a devida preocupação de falar de acordo com o que o Senhor de fato revelou em sua Palavra infalível e inerrante.

Penso que um dos grandes problemas que enfrentamos hoje é na área musical. Os autodenominados “levitas” têm cantado coisas difíceis de se explicar, para não dizer heréticas.

Sem entrar no mérito da impropriedade do termo “levita”, pois nenhum deles nasceu na tribo de Levi, e na nova Aliança não há um grupo especialmente designado para ajudar os sacerdotes, até porque todos somos sacerdotes (1Pe 2.9), a verdade é que eles acabam “doutrinando” os seus fãs com aquilo que cantam.

Por conta dessa má doutrinação, há um grande número de “adoradores extravagantes”, crentes “apaixonados” por Jesus e irmãos que se acham “A geração de adoradores”, para não falar daqueles que querem estar no “lugar secreto da adoração”, seja lá onde for isso. Pior ainda é ouvir pessoas pedindo para “ficar com Jesus”, “tocar em Jesus”, “deitar no colo de Jesus”, dentre outras aberrações que têm sido cantadas, mas que não são encontradas nas Escrituras.

Quando essa turma da cantoria que parece não ler a Bíblia, ou se leem a ignoram, resolve “profetizar”, aquilo que estava ruim pode ficar muito pior. Dia desses recebi um vídeo em que uma famosa “pastora” e um “apóstolo” falavam de tal principado boiadeiro que tem um tripé com base em três locais do mundo, Dallas, Barretos e Madri. Isso, segundo o apóstolo, explicaria a ida da pastora para Dallas para combater uma das bases. O apóstolo, que reside em Barretos, afirma ainda que sempre tem levado “homens e mulheres” de Deus a Barretos para profetizar, tocando numa ferradura que há na cidade, que Barretos é do Senhor Jesus.

Se não bastasse isso, a pastora conta que Deus a mandou comprar uma bota de couro de cobra Python e com aquela bota ela enfrentou principados de python, mas nos EUA a bota estragou e Deus a mandou comprar uma bota de cowboy. No fim das contas, tudo isso serviu para fazer a propaganda do próximo CD que terá um figurino de cowboy e declarará que os peões são do Senhor Jesus, ou seja, no fim das contas, tudo é comércio. Ao ouvir isso é impossível não lembrar as palavras do apóstolo Pedro, que afirmou que os falsos mestres estariam dentro da igreja e “movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (confira 2Pe 2.1-3).

Essa mesma pastora já protagonizou outros episódios ridículos como, por exemplo, andar engatinhando em um show imitando um leão ao receber a “unção do Leão” e ao explicar a razão de tal ato descreveu tudo o que havia acontecido naquele dia, incluindo o figurino que Deus a tinha mandado usar naquela ocasião. Toda a loucura foi “em nome de Deus”.

O pior é que os fãs aplaudem, acreditam, defendem ferrenhamente tudo o que ela faz sem o respaldo das Escrituras e ai de quem falar que aquilo não procede de Deus.

No tempo em que vivemos, devemos estar bem atentos ao que escreveu o profeta Jeremias:

“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor. [...] Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; contudo, profetizaram. Mas, se tivessem estado no meu conselho, então, teriam feito ouvir as minhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações” (Jr 23.16,21,22).

Pensando nisso, bem que poderíamos fazer uma releitura do dito popular e afirmar:“Em lagoinha que tem levita, quem leva as Escrituras a sério não deveria nem nadar”. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Milton Jr.

9 de setembro de 2010

Brasil, ame-o ou deixe-o

“Se o Diabo atormenta aqueles que têm zelo para com o Evangelho, [...]. É em razão de nossas faltas [...] e porque não damos a Deus o devido reconhecimento.[1]

Amado irmão brasileiro, semana passada levei meus filhos a um programa da escola em que estudam, um evento voltado para solidariedade. Na “Abertura” eles cantaram o Hino Nacional Brasileiro, e o diretor deu uma breve palavra sobre patriotismo e civismo. Pude observar que muitos daqueles garotos e garotas não sabiam cantar o Hino Nacional, aliás, não se canta mais o Hino Nacional nas escolas e os jovens não aprendem os hinos da Independência e da Bandeira. Lembro-me de que na idade desses garotos, além dos três hinos citados, aprendíamos o hino da cidade, tínhamos aula de “Educação Moral e Cívica”, e se não me falha a memória era no governo do presidente Médici, época da ditadura militar.

Acabamos de comemorar a Semana da Pátria, data instituída pelo governo Costa e Silva. Lembro-me de que, nessa semana, cada aluno tinha de guardar a Bandeira Nacional por uma hora, fazíamos isso com muito orgulho e amor pelo Brasil!

Nos tempos da ditadura militar, o presidente Médici espalhou por todo país uma frase de opção radical: “BRASIL, ame-o, ou deixe-o”.

Quero esclarecer que não sou saudosista, nem simpatizante da “ditadura militar”, sei dos muitos erros, injustiça e pecados que foram cometidos pelos governantes daquela época. Época chamada de “Anos de Chumbo”, um tempo criticado e estigmatizado por muitos que sofreram injustiças. Mas sei também que, nessa época, o adultério, a prostituição, a pornografia, o homossexualismo e o aborto eram crime; os bons costumes, o pudor, o valor da família e a educação eram muito mais valorizados. Lembro de minha mãe dizendo que na escola pública ela estudava inglês, francês e latim, e que os professores eram respeitados e tinham toda autoridade na sala de aula. Foi nesses anos que os bandidos, marginais e traficantes não tinham a moleza de hoje, a política não era tão corrupta e suja, os filhos não desrespeitavam nem matavam seus pais, e casais não se descasavam e casavam com tanta facilidade. A censura não era só da política e contra o comunismo, mas também contra a pornografia e programas de televisão contrários aos bons costumes. Creio que nenhum brasileiro, que é patriota, independente de sua crença ou religião, está satisfeito com a situação que se apresenta em nosso amado Brasil.

É do conhecimento de todos que há anos observamos a deterioração da política nacional. Conceitos como: ética, moral, civismo, patriotismo, justiça e verdade são virtudes antagônicas a tudo que acontece neste meio. Tantos escândalos, crimes, decoros, tantas provas de corrupção velada ou escancarada, e tudo fica por isso mesmo, ninguém tem força de mudar as coisas, ou ninguém quer mudar as coisas?

Muitas leis que já foram aprovadas e outras que tramitam no congresso estão e irão piorar ainda mais a questão moral e social do país. Leis que aprovam o aborto, o homossexualismo (casamento entre o mesmo sexo), leis que incitam e permitem crianças e adolescentes a fazer sexo antes do casamento, leis que proíbem a manifestação de pensamentos contrários ao homossexualismo, leis que promovem e aprovam a iniquidade. Leis que, além de não melhorar em nada a sociedade, não perscrutam nenhum benefício real, social e moral, mas, acima de tudo, são contrárias à Palavra de Deus e afrontam diretamente a sabedoria e autoridade do Criador, em relação à Sua mais bela e amada criação, o ser humano.

Entendo que a causa de toda esta situação não é o fim do militarismo; o mau uso da democracia; a falta de patriotismo e nem mesmo do pós-modernismo, mas a falta de temor a Deus. O pecado humano lançou Deus fora da sua esfera do governo. “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Livro dos Salmos, Cap. 14.1-3). O homem sem Deus não pensa, não raciocina, ficou insensato e louco; “se tornaram nulos em seus próprios raciocínios”, desconsideram a justiça e a ira de Deus que “se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Carta do apóstolo Paulo aos Romanos, Cap. 1.18).

Entendendo que o pecado é a causa de tudo, precisamos também entender que, se ficarmos calados diante de tudo que está acontecendo, seremos “co-responsáveis” e culpados diante de Deus, pois aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Carta de Tiago 4.17).

É triste, mas parece que vivemos num tempo de profundo egoísmo e interesses pessoais. Muitos dizem: “tá bom pra mim e para os meus, melhor não mudar nada!” Será que a premissa romana de “pão e circo” é o que domina a nação? Para quem não conhece história, “o Império Romano” foi destruído pela decadência ética e moral de seus governantes e governados.

Temos de denunciar e lutar contra a injustiça, a mentira e a iniquidade. Não podemos viver como cidadãos isolados da Polis, vivendo apenas pelos nossos interesses. Há princípios na Palavra de Deus, que podem e devem ser aplicados na nossa ação como cidadãos desta pátria, princípios como os da 1ª carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, Cap. 10.24: Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem” e da carta aos Filipenses, Cap. 2.4.Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.”

É o triunfo real do verdadeiro patriotismo, aquele que, em vez de fundar-se nos interesses particulares ou de grupos [...], repousa na defesa das liberdades humanas essenciais; é o patriotismo que o Evangelho engendra.[2]

Se estamos vendo as mentiras, as iniquidades e impiedades que mergulham o Brasil num poço de lama, mesmo que tenhamos “sobra” de pão, precisamos esclarecer “que nem só de pão viverá o homem, mas de toda Palavra de Deus” (Evangelho segundo Lucas Cap. 4.4). Não somos gado, somos seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, um Deus de amor, um Deus Santo e Justo. Temos a obrigação de combater a iniquidade, e também a obrigação de avisar que “A ira de Deus ... vem sobre toda a impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Carta do apóstolo Paulo aos Romanos, Cap. 1.18).

Irmão brasileiro, “Não deixe o Brasil!” Não deixe de exercer sua cidadania, não deixe de ser patriota, ame o Brasil, ame a justiça, ame a verdade, ame acima de tudo a Deus!

Eduardo Ferraz


[1] O Pensamento Econômico e Social de Calvino, 1ª Edição – André Biéler, Casa Editora Presbiteriana, SP, pg. 160)

[2] [2] O Pensamento Econômico e Social de Calvino, 1ª Edição – André Biéler, Casa Editora Presbiteriana, SP, pg. 160).

7 de setembro de 2010

A Cruz de Cristo


Existem alguns temas que são evitados hoje em dia. Boa parte das pessoas não gosta de falar de seus próprios erros cometidos, pecado, conseqüências dos nossos erros, muito menos da morte de Cristo na Cruz do Calvário em nosso lugar. Existe uma idéia de que você não pode falar de coisas negativas ou tristes, porque “atrai maus fluidos”, ou seja, atrai coisas ruins. Curiosamente, é comum em muitos círculos evangélicos a mensagem de auto-ajuda, ou de entretenimento, daquelas que arrancam gargalhadas da congregação, mas que não tocam na realidade de que nosso pecado ofende a santidade de Deus e isso o obriga a manifestar sua justiça. Deus é justo necessariamente.

O problema é que a manifestação da justiça de Deus implica na morte do culpado: “porque o salário do pecado é a morte...” (Rm 6.23a). Outra coisa que deve ser lembrada é que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). A junção dos dois versículos nos leva naturalmente à conclusão de que todos nós somos culpados diante de Deus e merecemos a morte como salário pelo nosso pecado. Poderia, então, um ímpio, culpado por crimes e delitos os mais diversos diante de Deus ter alguma chance? Será que Deus poderia fazer vista grossa e deixá-lo entrar no seu céu? Não! A sua justiça precisa ser satisfeita. O preço deve ser pago; o pecador deve morrer, ou seja, ser banido da presença amorosa e abençoadora de Deus. Será que o ímpio poderia fazer alguma coisa para aliviar sua carga e amenizar ou eliminar sua culpa e condenação? Não! A Bíblia diz que a salvação não é pelas obras para que ninguém se glorie (Ef 2.9). Então nossa justiça própria não resolveria nosso problema diante de Deus. Isaías disse que “todas as nossas justiças são como trapo da imundícia” (Is 64.6). Mas o que poderia resolver o problema dos ímpios que estão debaixo da ira de Deus?

Somente o pagamento realizado por um mediador poderia resolver o problema do ímpio. Mas esse mediador não poderia ser uma pessoa qualquer. Não poderia ser simplesmente um ser humano perfeito, porque, nesse caso, o pagamento seria feito unicamente por uma pessoa. O pagamento teria que ser feito por alguém poderoso, de natureza infinita, a fim de que o seu resultado fosse ilimitado. Seria necessário que o pagamento fosse realizado pelo próprio Deus. Para a salvação do homem ímpio e caído em pecado, Deus então resolveu enviar seu único Filho, verdadeiro Deus, nascido de mulher, verdadeiro homem, a fim de substituir na cruz a homens ímpios merecedores do inferno. Cristo Jesus morreu por nós quando nós ainda éramos ímpios. Porque Deus justifica o ímpio. Ele derramou seu sangue, sofreu a terrível cruz, a penalidade máxima por causa dos nossos pecados, em nosso lugar, imputando a sua justiça a nós para nos apresentar diante de Deus sem mácula e sem defeito algum. Deus mesmo pagou o preço a si mesmo, tornando a sua ira em bênçãos para a nossa salvação. Cristo tornou Deus Pai propício a nós. Jesus é a propiciação. Ele nos reconciliou com Deus e nos fez beneficiários dessa reconciliação. Fomos declarados justos no tribunal de Deus uma vez por todas. Essa é a glória da igreja de Cristo: a cruz do nosso Senhor. Foi nessa cruz que nosso pecado foi pago. Foi nessa cruz que a vida eterna foi conquistada pelo Senhor a nosso favor. Por isso podemos cantar: “eu me alegro na cruz, porque nela Jesus deu a vida por mim pecador”. Todo aquele que crer será justificado diante do Senhor pela graça de Cristo, mediante a sua fé.

E quando aquele que creu chegar diante do Senhor Todo-Poderoso e justo Juiz de toda a terra revestido de grande poder e majestade em seu trono celestial? Deverá temer alguma coisa? Ainda haverá mais alguma coisa que deveria fazer em seu favor para ser recebido na glória celestial? Agora imagine nosso personagem de joelhos aguardando a palavra final. Não! Seu débito foi pago! Foi pago pelo Senhor Jesus Cristo naquela cruz. A Justiça de Deus foi completamente satisfeita. Ah! A cruz maldita agora é a sua glória! Aquilo que poderia traduzir coisas ruins e negativas, a cruz de Cristo, está no cerne do Evangelho, da boa notícia de que mediante o sofrimento de Cristo lá, seremos recebidos pelo Pai em amor e santidade na sua presença justa. Ela é a nossa glória!

Pr. Charles

2 de setembro de 2010

Motivos, emoções e idolatria

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Certa vez me perguntaram se no céu teríamos lembrança daquilo que ocorreu em nossa vida e das pessoas que conhecemos. Sei que esse é um assunto controverso e que há posições bem diferentes, mas no meu entender não sofreremos de amnésia, lembraremos de tudo, sim. Ouvi como resposta que se for desse jeito ficaremos tristes no céu. A razão é que, lembrando de tudo, vamos saber caso algum parente nosso não esteja lá e certamente isso nos entristecerá.

Enquanto escrevo estas primeiras linhas, vem à minha mente uma conversa que tive com uma amiga, bem no começo da minha caminhada cristã. Na ocasião discutíamos a afirmação de um pregador que havia dito que homens de cabelo comprido não iriam para céu. Como ela pertencia a uma igreja que confundia “usos e costumes” com a própria Escritura, a conversa acabou girando em torno dos tais. No fim perguntei se eu, não observando os mesmos “costumes” que ela, mas crendo em Cristo, poderia ir para o céu e ouvi: “até pode ir, mas vai ficar com inveja porque meu galardão será maior”. Como novo convertido, limitei-me a responder que não iria para o mesmo céu que ela, pois para o que iria não haveria pecado.

Minha intenção neste post não é tentar provar se no céu haverá lembrança de tudo, tampouco discutir se homens podem ou não ter as madeixas crescidas, mas analisar como nossos sentimentos e motivações são afetados pelo pecado, por isso as duas histórias foram citadas.

A Escritura ensina que o homem foi criado para que Deus seja glorificado (Rm 11.36; 1Co 10.31) e nos instrui também de que o verdadeiro prazer, alegria, satisfação, esperança, segurança, etc. somente podem ser encontrados nele (Sl 73.25,26; Sl 1.2; Sl 16.11; Sl 18.2). Tanto é assim que no primeiro mandamento o Senhor ordena: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3), ou seja, nossa motivação deveria ser sempre a glória de Deus e o relacionamento com ele deveria satisfazer todos os nossos anseios.

Com a queda, o homem passou a buscar prazer em coisas e pessoas, aprovação dos homens e sua motivação se tornou egoísta. O problema é que sempre que dependemos de qualquer coisa ou pessoa para ser felizes, seguros ou plenamente realizados, estamos quebrando o primeiro mandamento e somos culpados pelo pecado da idolatria. Podemos voltar então aos exemplos citados no início para ver de forma prática o quanto o pecado aflige e distorce a vontade de Deus para a vida do homem.

No primeiro caso a alegria no céu está vinculada ao fato de ter os entes queridos também por lá, a ponto de achar que se lembrarmos de algum que não foi salvo (caso seja verdadeira a afirmação de que no céu teremos lembrança de tudo) ficaremos tristes, o que demonstra que a presença bendita do Senhor e a comunhão plena com ele ficariam ofuscadas de tal modo que não conseguiríamos estar alegres.

No segundo exemplo verificamos que a motivação para cumprir determinadas práticas não era glorificar ao Senhor, mas ganhar mais galardão e, por que não, o medo de ficar triste e invejar aqueles que ganharão mais.

É claro que não são somente as pessoas das histórias citadas que sofrem com os efeitos do pecado. Cada um de nós, membros da raça humana, caídos em Adão, padece os mesmos problemas.

Isso explica o porquê de muitas vezes pecarmos simplesmente para ser aceitos por homens, para ser bem vistos. Explica também o fato de muitas vezes sermos controlados pelo que as pessoas vão pensar, numa motivação totalmente egoísta. Você se lembra de Pedro afastando-se dos gentios com quem comia, pois temia o que “os da circuncisão” iam achar (Gl 2.11ss)?

Diante do que foi exposto devemos dar ouvidos à exortação do apóstolo João: “Filinhos, guardai-vos dos ídolos”, e verificar que ela vem logo após a afirmação de que estamos no verdadeiro Deus: Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20-21).

Que creiamos nisso de todo o coração e aprendamos a estar plenamente satisfeitos em Deus, motivados a fazer todas as coisas somente para a sua glória.

Milton Jr.