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25 de outubro de 2010

Pragmatismo versus Fidelidade


Uma das características mais comuns em uma sociedade humana é valorizar e buscar o sucesso. Em palavras mais diretas, o ser humano sempre busca os meios utilitaristas para ser um bem-sucedido ante seus pares e admiradores. A cultura dita ocidental navega sobre as águas caudalosas da concorrência e da visão empresarial, sofrendo as imposições estatísticas onde os números contam mais alto que a ética, o pudor e o bom senso. O desejo de ganhar sempre e estar à frente dos concorrentes são a palavra de ordem do sistema em que vivemos. Trata-se das lutas de classificação em meio às concorrências acirradas.

Com relação a algumas denominações e até mesmo igrejas locais, pelo que tenho percebido, a prática tem sido a mesma. Se perguntarmos hoje qual a evidência do sucesso em uma igreja, sem medo de errar, seus líderes apontariam ao número de membros já “conquistados” através do seu método “infalível”. “Temos hoje três mil membros em apenas dois anos de trabalho e isso se deve à nossa visão de ministério!” poderia bradar algum pastor jactancioso de uma entidade qualquer. O mais triste é que neste caldeirão vale tudo: promessa de prosperidade, capacidade de tornar alguém um líder em poucos meses, grupos que se reúnem em casa, rede ministerial, louvor animado, cura de enfermidades, encontros secretos para sessões de psicanálise “evangélica”, pregação descompromissada com as Escrituras, hábitos estranhos ao princípio regulador do culto, mas que agradam ao freguês etc. Em outras palavras, o que vale é o método e, conseqüentemente, os números (membros) angariados. O que mais chama a atenção, em minha opinião, é o desmantelo teológico, a intolerância, o desrespeito para com outros segmentos mais simples e modestos e a valorização do método inovador em detrimento de um ensino bíblico responsável, da comunhão e da visão de Corpo, desembocando no proselitismo explícito (cooptação de membros de outras igrejas).

Seria isto Evangelho? Embora cada grupo reivindique a autoridade bíblica para o seu método – por vezes sem ética – duvido muito que o modelo proposto nas Escrituras seja qualquer um destes. Se olharmos com sinceridade para a Palavra, vamos perceber que não existe ênfase nos números de membros. Excetuando Atos 2: 41, em nenhum outro lugar há a menção do número de membros em uma igreja, aliás, o próprio apóstolo Paulo afirma que na cidade de Corinto havia batizado apenas dois indivíduos e uma família. O mesmo apóstolo, ao dar seu relatório no final da vida, não informou a quantidade de pessoas que havia experimentado a conversão com seu procedimento evangelístico (que era a simples pregação do Evangelho), mas disse: “... combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé...”, isto por que ele, Paulo, sabia muito bem que as conversões não dependiam de algum método ou modelo “divinamente revelados”, mas sim, pela ação soberana de Deus, ou seja, cada igreja deveria ser fiel enquanto “... o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos" (Atos 2: 47 – grifo meu). Esta afirmação é desconcertante, imagino, pois retira completamente o mérito dos pobres e equivocados líderes das massas e recoloca-o em seu devido lugar: a soberania de Deus. O que pensar, por exemplo, das palavras de Paulo quando diz: "Logo, tem ele [Deus] misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz" (Rm 9: 18)?

Não quero aqui desestimular o ardor evangelístico, tal ato seria uma blasfêmia contra a vontade de Deus, muito pelo contrário, não devemos medir esforços para pregar o evangelho aos pecadores. O que quero ressaltar é que os eleitos irão se converter independente do método que usamos. Não importa se o pregador é um visionário intelectual ou um camponês que mal sabe se expressar; não importa se todos estão na visão da moda ou fora dela; não importa se a igreja passou a ter três mil membros em dois meses ou se é um pequeno rebanho com poucos membros em uma cidade onde o evangelho é perseguido violentamente. " Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia" (Rm 9: 16).
Creio que está na hora dos pastores e líderes atentarem para a exposição honesta da Palavra de Deus, para o ardor evangelístico e, principalmente, para a humildade e a ética no cumprimento das Escrituras. Em outras palavras, o principal é ser fiel. Quanto aos que irão se converter, bem, isto é com a soberania do Deus único sobre todos.

Sola Scriptura

Alfredo de Souza

15 comentários:

Anônimo disse...

Alfredo, temo que as pessoas tenham essa necessidade de "dar uma ajudinha" para a Palavra por causa da incredulidade.
O que você acha a respeito disso?
Não sei se o que está em jogo é apenas a popularidade, o número, mas, também, a falta de esperar no Senhor e ter certeza de que ele é soberano e tem poder para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos.
Ontem um ministério de música conhecido no Brasil todo esteve no programa do Faustão e, por mais incoerente que me pareça, vários e vários evangélicos divulgavam isso como se fosse a melhor coisa do universo - "óh, os evangélicos estão ganhando a mídia, poderão pregar o evangelho".
Não assisti porque não suporto se quer a voz do tal Faustão, mas hoje dei uma rápida olhada em vídeos do youtube e, entre outras coisas, o que vi foi uma líder admirada por evangélicos do Brasil todo concordar com uma afirmação feita pelo apresentador de que todos têm o direito de escolher sua religião, fazer sua opção sexual e que isso era correto.
Lamentável vermos o evangelho da graça de Deus sendo barateado dessa forma em troca do número de simpatizantes.
Post muito pertinente, como sempre!
Vou passar pra frente!!

A Esperança Puritana disse...

Alfredo,

Excelente propositura: delineada nos padrões do Novo Testamento. Porém, não entendi a frase "O que quero ressaltar é que os eleitos irão se converter independente do método que usamos". Aparentemente, ele parece desfazer o escopo do post. Sabemos que o Deus que predestina os homens para a salvação é, também, aquele que predestinou o método: a pregação pura e simples das Escrituras. O pensamento reformado vaticina que o método que leva a conversão é único - a Palavra que gera vida. Eu sei que pensas assim, mas, sabes, em teologia é preciso ser preciso, e até, como os teólogos puritanos, cirurgicamente detalhistas.

Samuel Vitalino disse...

Alfredo,

Mais um strike!

O que ensinamos aos nossos missionários aqui é que eles são julgados pela fidelidade à Escritura e não pela quantidade deconversões.

De certa forma a primeira depende deles, e nunca a última deixa de depender apenas de Deus.

Jonas foi um péssimo exemplo de missionário e milhares de pessoas se converteram em Nínive na sua pregação; ao passo que Jeremias passou 30 anos pregando a verdade de Deus em Jerusalém e não conquistou nada além de ouvidos fechados à sua mensagem verdadeira.

Que muitos possam ler seu post... eu farei a minha parte divulgando.

Abraço,

Alfredo de Souza disse...

Querida Ligian.

Paulo também foi acusado de pregar e não obter resultados práticos, ou seja, a conversão de pessoas. Acusavam-no de ser fraco pessoalmente (ao contrário da força que demonstrava nas cartas). Diante desta acusação ele, inspirado pelo Espírito Santo, fez uma das mais lindas declarações feitas por ele, trata-se de 2 Coríntios 4. Permita-me colocar aqui apenas os versículos entre 1 e 7:

"Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós."

Alfredo de Souza disse...

Continuação...

Veja que coisa esplêndida, Paulo não negocia o Evangelho, antes manifesta a verdade. Ele mesmo revela o porquê da resistência à pregação nos versos 3 e 4. E mesmo descobrindo o motivo, não se utiliza disso para criar uma estratégia "espiritual" para "ganhar" tais pessoas. Paulo sabia que o poder era de Deus e não dele como pregoeiro.

Grande abraço.

Alfredo de Souza disse...

Caro Naziaseno.

Por método eu entendo como um caminho pelo qual se atinge um objetivo, ou seja, é um programa que regula as operações a serem realizadas. Aqui temos, neste processo ou técnica, uma finalidade. Resumindo, o método é, por excelência, teleológico. A própria etimologia já diz isso, pois o termo é a junção de uma preposição (através) e um substantivo (caminho). Quando se discute sobre pesquisa, por exemplo, existem vários métodos, mas a alma de todo o método é a teoria.

Nesse aspecto, o Senhor Deus nos deixou princípios de evangelização que podem ser resumidos em 1. fidelidade; 2. glória ao nome dEle; e, 3. ratificação da eleição eterna (salvação ou perdição).

Já os métodos são as maneiras como eu comunico o Evangelho (púlpito, rádio, TV, Internet etc.)

É nesse sentido que eu afirmo que os eleitos à salvação irão se converter independente do método que usamos, assim como os eleitos à perdição permanecerão duros diante das metodologias utilizadas.

Além do que, o Senhor exige de nós apenas fidelidade aos seus princípios.

Grande abraço irmão.

Milton Jr. disse...

Alfredo,
Mais um excelente post. Queira o Senhor que a igreja volte a olhar para as Escrituras e encontre nelas o "método" correto para alcançar os eleitos: A boa e velha pregação fiel do Evangelho.
Grande abraço.

Unknown disse...

Alfredo,

Parabéns pelo post!

Que o Senhor nos conserve fiéis!

Abraços

Alfredo de Souza disse...

Queridos Samuel, Josiel, Milton e Alan, um grande abraço.

Charles Melo disse...

Alfredo,

Como poderíamos explicar o fenômeno neo-pentecostal? Penso que não se trata de um fenômeno pístico, mas antropológico ou quiçá econômico. É melhor testemunharmos um pequeno número de conversões genuínas do que uma massa de adeptos motivados pelas paixões condenadas nas Sagradas Escrituras!

Maravilhoso seu post!

Abraço!

Alfredo de Souza disse...

Grande Charles.

Eu escrevi um artigo intitulado "O pentecostalismo também é cultural" onde discuto exatamente isso.

Quando nos deparamos com o neopentecostalismo, sem dúvida, contemplamos a situação evangélica no Brasil. Eu creio que, com raríssimas exceções, há eleitos por lá, mas, mais cedo ou mais tarde, eles sairão por não suportarem as práticas eclesiásticas daqueles líderes.

Todavia, lembro-me de Mt 20: 16 (muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos)

Forte abraço.

Para quem tiver interesse na postagem que mencionei: http://alfredo-de-souza.blogspot.com/2010/05/o-pentecostalismo-tambem-e-cultural.html

Anônimo disse...

Chorem pastores reacionários. O lema de voces nao é Brasil AME-O ou DEIXE-O? Perderam! Vao embora! Tchau!

Samuel Vitalino disse...

Anônimo,
Já deixei uma resposta para você na palavra que você deu na minha postagem (A Reforma Começa em Casa II).

Alfredo de Souza disse...

Anônimo, perdemos o que? Sinceramente não entendi!

Anônimo disse...

Prezados Pastores, é de extrema importância o trabalho que vêm realizando, e graças a Deus por podermos nos expressar conforme aquilo em que acreditamos.

Os posts sobre relacionamento conjugal, pais e filhos, e a busca pelo cônjuge são muito enriquecedores. Mas há uma dificuldade que eu creio que muitos casais encontrem em sua vida comum, a relação com sogros, cunhados, e demais familiares. Ando procurando por textos que nos instruam a respeito, que abranjam as duas vertentes, mas apenas encontrei algo em sites da igreja Católica. Como lidar com as cobranças dos pais e sogros? Qual seria a participação dos pais e sogros na vida dos seus filhos casados sem que traga transtornos, pressão, sobrecarga e até o divórcio? Agradeceria se pudessem ao menos indicar textos fidedignos e bem fundamentados, pautados na Escritura, que pudessem nos orientar a respeito. Há pais que esperam por demais que seus filhos retribuam a cada uma de suas abnegações enquanto eles ainda eram crianças, há aqueles que acreditam que seus filhos devam realizar seus sonhos e anseios, preencher o vazio...

Grata.