Há algum tempo atrás eu ouvia as
notícias matinais no rádio, quando uma, em especial causou meu espanto: o
Projeto de Emenda à Constituição nº 37 (PEC-37) que retirava do Ministério Público
a tarefa de investigar crimes (inclusive a corrupção) havia sido aprovado pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Vale
ressaltar que alguns deputados já condenados
por corrupção ativa fazem parte dessa comissão. Então no mesmo dia comentei
com minha esposa e perguntei: onde está o povo brasileiro que não sai às ruas
para protestar contra uma calamidade dessas?
Enfim, o gigante acordou. A
multidão está nas ruas, desde que o aumento nas tarifas de ônibus foi anunciado
nas principais capitais dos estados do país. O aumento foi recuado, mas a
multidão permanece nas ruas. Só há uma conclusão a tomar: não era pelos R$
0,20. O aumento das tarifas foi só a gota d’água. As multidões estão revoltadas
com a corrupção, com a má gestão do dinheiro público (a copa
do mundo está orçada em R$ 33 bilhões, sendo que as três últimas copas juntas
custaram menos que isso). A população percebeu que o mesmo dinheiro que foi
investido na construção dos estádios poderia ter sido utilizado na saúde e na
educação. Essas coisas eram prioritárias. Portanto, a terceira causa das
manifestações é a falta de investimentos
em educação e saúde.
Qual deve ser o envolvimento da
igreja nessas questões? É lícito ao crente tomar parte em manifestações
públicas como estas que estão ocorrendo pelo Brasil?
Os governos civis foram
instituídos por Deus para reger manter a ordem e paz nas comunidades civis.
Para isto, têm o poder do uso da espada (força), da cobrança de impostos para
serviço da sociedade e o poder de legislar em prol do bem comum (Rm 13.1-7). A
igreja deve então obedecer e respeitar as autoridades. No entanto, se o Estado
exigir coisas contrárias à Palavra de Deus, os cristãos têm a obrigação de não
obedecer, porque “antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).
Também a igreja se relaciona com
o Estado o âmbito da moralidade. Dessa forma, ela tem a tarefa de se posicionar
claramente, como uma voz profética, caso o Estado não cumpra o que é devido e
quando ele se desvia do padrão aceitável de moralidade. É o caso da corrupção,
do descaso com as necessidades reais dos cidadãos, como saúde, educação e
segurança. Quando o Estado pratica a impunidade, a violência é encorajada e o
crime tolerado. Os resultados são terríveis.
A Igreja sempre se relacionou com
o Estado em obediência devido ao seu temor a Deus, mas em alguns momentos de
desonestidade, imoralidade e ditadura da iniquidade, ela se posicionou contrariamente
e até lutou. Por exemplo, “os huguenotes (calvinistas
franceses) guerrearam dez vezes por sua fé na França; os calvinistas holandeses
expulsaram com a força das armas os hereges invasores espanhóis; os puritanos
ingleses decapitaram um rei por lesa patria
– algo inédito na história – além de terem derrotado as tropas do rei (que
impuseram a liturgia católica nas igrejas reformadas) no campo de batalha; os
puritanos escoceses pegaram em armas para defender a liberdade de culto
presbiteriana contra os anglicanos ingleses; e os presbiterianos estiveram na
linha de frente da revolução americana, na época das treze colônias” (extraído
e adaptado do artigo do Tiago Santos – Editora Fiel).
Eu
creio que a igreja deve assumir algumas posições claras nesses tempos de crise.
Contra a impunidade, a idolatria, a corrupção (que está ligada ao amor ao
dinheiro – idolatria), o PLC 122/2006 (que impõe superdireitos aos
homossexuais) e a falta de investimentos em saúde, educação e segurança. Deve,
no entanto, fazer isto com moderação e sobriedade, sem jamais apoiar o vandalismo
e a violência. Deve também evitar achincalhar as autoridades civis, o que seria
uma clara desobediência ao mandamento de Deus. Eu creio que Deus pode usar
nosso patriotismo como uma causa secundária de sua providência para o bem de
nossa nação. Mas não nos esqueçamos também de que as nossas armas são
diferentes. Ouçamos as palavras de Paulo: “Antes de tudo, pois, exorto que se
use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de
todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de
autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e
respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador” (1Tm 2.1-3;
cf. 1Pe 2.11-17). Vamos trabalhar, orar e jejuar: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz”
(Jr 29.7).
Que Deus abençoe
a nossa nação!
Pr. Charles
1 comentários:
Eu queria mesmo é ver essa energia toda para pregar o evangelho.
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