Um movimento norte-americano chamado “Odres Novos” tem procurado resgatar a importância da doutrina em algumas Igreja Presbiterianas. “Espera aí... Tentando resgatar a importância da doutrina numa igreja presbiteriana?”— Você deve estar se perguntando. Isso porque a força da doutrina sempre foi uma marca registrada no presbiterianismo. Por mais que soe estranho, a importância da doutrina tem mesmo que ser resgatada na igreja de um modo geral, inclusive a presbiteriana.
Existem algumas razões que mostram que a importância da doutrina merece resgate em nosso tempo. A nossa geração tende à preferência por uma “missigenação denominacional”, onde as denominações perdem suas peculiaridades para dar lugar ao intercâmbio. Dizem os especialistas em Ciências da Religião, que a tendência é que as diferenças entre as igrejas sejam substituídas por uma identidade única isenta de profundidade teológica e preenchida com a tendência da maioria. É por isso que a pressão do pentecostalismo é tão forte; afinal, a maioria pensa assim! Eu já ouvi muita gente perguntar: “por que só os presbiterianos pensam e agem assim?”. Já ouvi também coisas do tipo “mas as igrejas dos meus amigos todas fazem desse jeito...” Outras razões têm sido apontadas como motivos para não se interessar pela doutrina: a doutrina só causa divisão; ela suprime a evangelização; ela impede o crescimento da igreja; doutrina produz frieza espiritual; ela faz com que o culto seja frio. Mas a pior de todas é “doutrina impede a ação do Espírito Santo, pois a letra mata, mas o Espírito vivifica”. Essa é a pior porque torce o texto e ignora que a “letra” significa a “lei”. E outra, se o Espírito é antagônico à doutrina, então por que ele inspirou a Bíblia? Doutrina é apenas a exposição das Escrituras!
É claro que doutrina não divide a igreja; pelo contrário, ela une. A Bíblia diz que os crentes de Jerusalém perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, e ainda diz que perseveravam unânimes no templo (At 2.42,46). A doutrina não suprime a evangelização; antes, fornece a base e a motivação para que ela seja feita corretamente (2Tm 4.2,3). A doutrina não impede o crescimento da igreja pelo simples fato de que os crentes da Igreja Primitiva perseverava na doutrina e, “enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia os que iam sendo salvos” (At 2.47). Também ela não gera frieza espiritual, pois a mesma igreja adorava com fervor e alegria e, ao mesmo tempo, perseverava na doutrina (At 2.43-47). A doutrina fortalece a igreja; fornece base para que o crente suporte aflições; mantém cada membro do corpo de Cristo atento na hora em que surgem as heresias perniciosas.
Para encerrar esta reflexão, olhe para a sua igreja local. Qual a porcentagem dos membros que participa dos estudos semanais? Pode ser que ela também precise de resgate da sã doutrina. Sempre haverá muitas pessoas que podem ir, mas não vão. Isso é triste, pois demonstra o nível do interesse pelo ensino correto, justo num tempo de desinteresse pela verdade. Também perde-se a chance de perguntar mais, ouvir melhor, aprender mais... Não perca estudos bíblicos. Se você tem alguma sugestão para melhorar, procure o seu pastor e sugira, mas não perca. Senão, daqui a alguns anos, será ainda mais difícil suportar o apelo do pentecostalismo, neopentecostalismo, neoliberalismo, neoisso, neoaquilo e neoaquiloutro.
24 comentários:
Muito bom. Mais um blog com conteúdo reformado e preocupado em formar uma mentalidade cristã centrada na Palavra. Fiz disciplinas com o Pr. Milton no Jumper e tive oportunidade de conhecer o Pr. Samuel, em São Luis no último fim de semana.
Que Deus os abençoe nesse novo projeto.
Tive oportunidade de dar aulas para os jovens usando um livro que se chama "A Guerra Pela Verdade" de John MacArthur e o que vejo, infelizmente, é que os crentes não têm visto isso (o abrir mão da doutrina) como um pecado. Triste, alarmante e desafiador já que temos o árduo trabalho de lutar contra o conformismo e contra a vontade de deixar que o vento leve para onde quiser.
Charles,
Muito feliz seu post. A necessidade de reforma passa mesmo por estabelecer esses pontos importantes que se escorreram pelos dedos nas últimas gerações: Reforma com evangelismo, culto alegre, vida feliz e diálogo com a Bíblia aberta e no coração.
Um privilégio ter você como amigo!
Ligian,
É impressionante como, à medida que nos aproximamos da volta de Cristo, mais e mais a verdade é abandonada. Nós, como cristãos, temos a tripla tarefa de vindicar a fé, desafiar a incredulidade e persuadir os incrédulos. Antigamente se fazia isso fora da Igreja. Hoje, infelizmente, temos que cumprir essa tarefa apologética também dentro da igreja, o que é alarmante!
Samuel,
Tive a experiência triste de ouvir uma pessoa pedindo que eu não falasse mais de doutrina, mas só do amor de Deus. Chega a ser cômico, pra não dizer trágico! Como é que eu vou expor a Palavra sem doutrina? Em suma, para que atinjamos aqueles objetivos que você listou, só com os olhos na Palavra! Precisamos de doutrina!
Samuel,
Esqueci de dizer: privilégio é para mim ter você como amigo!
Ivonete,
Obrigado por suas palavras de encorajamento. Esperamos que este novo blog sirva de alguma forma na difícil tarefa de conscientizar para a importância e relevância da Bíblia no nosso cotidiano. Aguardamos sua participação e contribuição sempre.
Oi Ivonete,
Bom "te ver" por aqui. Obrigado pela força.
Milton,
Você sabe que nós somos contra o chamado "namoro missionário" :), mas no caso da Ivonete a gente admite, pois a missão dela é 'converter' o Pr. Alen (Batista quase Presbiteriano) em Presbiteriano de Direito!
Grande abraço no Alen também!
O impressionante é saber que qualquer pessoa se identifica por sua cosmivisão. Para nós é indubitável a necessidade de uma doutrina que tenha como único parâmetro as Escrituras. Logo, nossa cosmovisão deve se basear na doutrina que vem da Palavra de Deus, qualquer coisa menor que isso torna o nosso cristianismo pragmático e irresponsável.
Sou ovelha do Pr. Josafá Vasconcelos desde que me converti, há 10 anos atrás. Entretanto precisei passar um tempo no interior para estudar a faculdade de Direito. Imaginem qual foi minha surpresa quando muitos membros das igrejas da região diziam com todas as palavras que não conheciam os simbolos de fé da IPB e não gostariam de aprender pq foram feitos por homens. A maioria não cria e pouco conhecia das doutrinas da Graça. A EBD era baseada apenas naquelas revistas, em todas as classes, e somente após muita insistência criaram uma classe com o breve catecismo (para os pré-adolescentes)(Eu estranhei muito isso pois na minha igreja o breve catecismo era ensinado para os catecúmenos - hoje é o catecismo maior, tinha classe aprendendo a confissão de fé- hoje são as Institutas- e aí por diante...) Mas isso era o de menos, pior mesmo foi quando um presbítero começou a reclamar com o pastor pq ele só pregava sobre Juizo. As pessoas queriam ouvir palavras de conforto. Para mim isso tudo parecia surreal, mas é a triste realidade de uma grande parte das igrejas presbiterianas no Brasil.Ainda assim me conforto pois eu creio que o Senhor tem feito uma obra de reforma em nosso País! Oremos - e labutemos- por isso! Amém amém amém!
Charles,
Lendo o seu post lembrei de outra frase equivocada e muito comum entre os evangélicos brasileiros: "Não precisamos de doutrina, precisamos é evangelizar!"
Entretanto, dizer "Esqueça a doutrina, vamos evangelizar" é tão ridículo quanto uma equipe de futebol que diz "Esqueça a bola, vamos continuar o jogo" (Peter Lewis).
Parabéns pelo post!
Olá! Já estou seguindo!
Que Deus abençoe poderosamente o ministério de vcs!
Se quiserem fazer uma visitinha também, serão muito bem vindos!
Fiquem na Paz do Senhor Jesus!
Olá caro colega,
Primeiro quero dar os parabéns pela iniciativa na criação deste espaço.
Entendo que este tema que você trata neste artigo é muito relevante e atual, e me fez lembrar um livreto que li do teologo, J.R.Stott, que me marcou muito: "Crer é também pensar". Nele Stott mostra a importância da razão na vida cristã. Stotto mostra também que razão e emoção não se excluem, pelo contrário se completam, citando o Dr. John Mackay ele diz: “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação”.
Entendo ser este o caminho para voltarmos a essência da igreja primitiva. Uma igreja que perseverava nas doutrinas dos apostolos e que experimentava o agir sobrenatural e soberano de Deus dia a dia.
Um Abração,
Pastor Zedequias
Pr. Charles,
Boa postagem. Parebéns pela iniciativa de vcs. sei que vou ler muita coisa boa aqui.
Grande Abraço.
Soli Deo Gloria
Flávia,
Seja bem vinda e traga sempre sua contribuição. Sua experiência se parece com a de muita gente.
Parece que está cada vez mais difícil encontrar a simples pregação da Palavra nas Igrejas por aí, mas Deus tem levantado uma geração para Sua glória. Continuemos em oração.
Valéria, interessante seu blog. Diferente :)!!
Pastores Zedequias e Azael (coisa Pequena), que bom ver não podemos chorar como Elias!
Abraços,
Parabéns pelo texto. Muito jóia. Igreja sem doutrina... de onde o povo tira estas idéias! Já não bastava ter igreja sem pastor...? Qual será a próxima??? igreja sem crente...?!?!?
Meus irmãos e queridos pastores, peço permissão pra ser franco, n no sentido despeixar um bocado de teoria, pelo contrário...enfim!
Bom, penso q a doutrina n seja o problema na ig presbiteriana, se vc colocar um jovem nosso pra conversar c/ qualquer outra jovem de outra denominação o cara vai esbajar teologia e isso eu vi pessoalmente.
Nosso problema tá no que chamamos de praxis teologica, cara...qd olo pra Mt 25.31-46, ae vejo q não sabemos nada de doutrina ou talvez não precise nem saber, pq muito sabemos e pouco ou quase nada fazemos pelos "Cristos" q passam por nós todos os dias. Olha digo isto não só de boca pra fora não, eu combato radicalmente na prática o conhecimento intectual sem prática e corro atrás, pra provar q estamos aquém de sermos reformados, qd olho pra os avivamentos, vejo, não só doutrina sendo adentrada na mente das pessoas, mais vejo nos registros históricos, cidades se transformandos, economia, ação social(e n me refiro apenas a sopões nas sextas-feiras não.
Pastor, as ações sociais de verdade são feitas pelos ímpios? teleton, criança esperaça, enfim.
Calvino, transformou Genebra, Nox a Escócia e nós? O que dizer de denominações q pouco sabem do evangelho eu até diria e muito fazem! Diremos q suas obras n são aceitas, pq n aceitam q Deus escolhe pessoas pra ir pra os inferno e outros pra o céu?
Sei q pouco é o espaço mais meu anseio é: que aprendam, saiam e sejam e façam e voltem, ensinem-nos mais desta doutrina maravilhosa da Graça!
Caro Colega Marcos,
O problema é a falta das duas coisas. A ortodoxia (doutrina correta) leva à ortopraxia (prática correta). Se estamos sendo omissos, então é por uma compreensão errônea da doutrina, ou a falta de aplicação da mesma. Mas graças a Deus, algumas igrejas têm acordado para a realidade de que precisam participar mais para transformar o nosso país com o evangelho de Cristo. Minha igreja possui um projeto que recupera crianças desnutridas. Já eliminou a desnutrição de vários bairros da Grande BH. Temos projetos de evangelização através de alfabetização de adultos (AEI), um projeto chamado "Acolher", que tem recebido mulheres do bairro para ensino de artesanato e outros mais estão a caminho, como o trabalho de recuperação de presidiárias através do ensino de artes, música, profissão, etc. Ela investe pesado em missões (mais de 30% do orçamento anual) e tem firmado parcerias com o plantio de outras igrejas. Curiosamente, a Sexta Igreja Presbiteriana de BH é uma das mais firmes na doutrina reformada e uma das que mais busca conhecer a fé. Todos os domingos a igreja recita uma pergunta do Catecismo Maior de Westminster. Isso para mim é exemplo de ortodoxia conduzindo à ortopraxia. Obrigado pelo seu alerta.
Jonatas,
É cada uma, não? o que é irônico é que "igreja sem doutrina" é uma doutrina. eheheh
Flávia,
O que tem de gente dentro da IPB que nunca sequer leu a Confissão de Fé de Westminster, é de arrepiar os cabelos da cabeça (que não tenho - rs). Quem sabe, através de meios como este blog, as pessoas que possuem cisma com a doutrina se interessem. Há quem não saiba sequer porque somos presbiterianos. É triste, mas a luta não é inglória! Obrigado pelo apoio!
Samuel, o burro não era mentecapto!
Zedequias, ouvir de você aqui no blog é bom demais da conta! Que Deus te abençoe aí à frente do PRSA e da sua igreja local. Lutemos pela doutrina aliada com a piedade!
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