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31 de março de 2011

O Monstruoso Regime da Iniqüidade

À medida que o tempo caminha para o seu final, na volta de Cristo, os sinais estão cada vez mais evidentes em todos os lados. Estou seriamente interessado em que você, caro leitor, não seja pego desprevenido quando o Senhor voltar. Se você ainda nutre no coração a idéia de que a volta de Cristo ainda está longe de acontecer, pense comigo acerca de pelo menos dois sinais do seu retorno:

Apostasia – Paulo disse que Jesus não retornaria sem que antes ocorresse a apostasia (2Ts 2.3a). Esta já vem ocorrendo, não só nos meios eclesiásticos, através da penetração do engano, do erro, do desprezo à verdade da sã doutrina nas igrejas, mas também nas outras esferas, como as universidades e escolas. Cada vez que afirmam coisas contrárias à Palavra de Deus, as pessoas e instituições caminham na direção apostática, para longe da verdade de Deus. Por exemplo, a ONU enviará uma orientação para que todos os países aprovem medidas “anti-homofobia”. Já 80 países afirmaram concordar com a iniciativa. Na Alemanha, um casal que se recusou a levar o filho na escola para assistir uma apresentação de teatro que ensinava a fazer o que lhe desse prazer em relação a sexualidade, em defesa do homossexualismo, foi condenado a pagar multa ao governo e também a três meses de prisão cada um.

Revelação do Homem da Iniqüidade – Paulo também disse que Jesus não retornaria sem que houvesse a manifestação do “homem do pecado” (2Ts 2.3b). O sentido da expressão “homem da iniqüidade” tem sido discutido pelos intérpretes. Alguns pensam que se trata de um homem, “o Anticristo”; outros seguem no mesmo caminho, mas dizem que é o Falso Profeta. Quero propor outra possibilidade. Levando-se em consideração que o termo “homem” pode ter conotação coletiva significando “humanidade” (Gn 6.3; Sl 8.4; 90.3; 103.15; 108.12; 144.4; Pv 5.21; Ec 7.29; Is 17.7; Mt 4.4; Mt 19.6; 1Co 3.3), “homem da iniqüidade” seria a “humanidade entregue à iniqüidade”. A iniqüidade é a prática constante, desenfreada e deliberada do pecado. Meus irmãos, o homem da iniqüidade não havia sido ainda revelado nos dias de Paulo porque havia alguém que o detinha. Creio ser o Espírito Santo, o mesmo que em Gênesis 6.3 não mais restringiria a maldade das pessoas, resultando na multiplicação da iniqüidade e conseqüente juízo de Deus no Dilúvio. Penso que o Espírito Santo está soltando as rédeas permitindo que a humanidade peque cada vez mais desenfreadamente. É por isso que o regime ditatorial do pecado está entrando em toda a parte, seja através da pornografia, do homossexualismo, da pedofilia, do sexo livre, da banalização da família, do casamento e da negação direta da Palavra de Deus. O que aconteceu na Alemanha é só uma demonstração desse regime da iniqüidade. Em resumo, não falta mais nada para Jesus voltar! Sua volta pode ocorrer a qualquer instante!

O que devemos fazer? Primeiro devemos crer na lei de Deus e no evangelho. Considere a lei de Deus todos os mandamentos expressos na Bíblia, desde o início até o final, incluindo os do Novo Testamento. O evangelho seria o que compõe as promessas e a mensagem de que temos a salvação no sacrifício de Cristo, como aquele que morreu em nosso lugar na cruz para que não sofrêssemos o castigo do pecado que todos nós merecemos. Exortar a crer na lei e no evangelho não é chover no molhado, pois o crente que peca deliberadamente está falhando em sua fé; está vivendo como se os mandamentos da Bíblia não fossem verdadeiros ou como se nem existissem. Também ignora que as promessas de Deus estão prestes a se cumprir e os desavisados serão pegos de surpresa. “Virá, entretanto, como ladrão o Dia do Senhor” (2Pe 3.10).

Sejamos fortes e resolutos na luta contra o pecado e a instalação desse sistema ditatorial de iniqüidade. Devemos empunhar o estandarte da verdade e proclamar a Palavra com mais vigor ainda. Devemos ainda nos alegrar sobremaneira (Ml 4.2; Lc 21.28) e nos desligar das coisas do aqui e do agora cada vez mais. O mundo será como uma supercola que manterá aqui o desprevenido que puser nas coisas do aqui e do agora a sua confiança e esperança de satisfação. Exulte e erga a sua cabeça! Cristo está voltando! Maranata! Vem, Senhor Jesus!

Pr. Charles

29 de março de 2011

COMO ESCOLHER O FUTURO CÔNJUGE?

Quero mais uma vez tratar sobre namoro, tema bastante discutido aqui neste espaço. Primeiramente, desejo dizer que sou contra o modelo utilizado por nossa cultura brasileira, ou seja, um relacionamento recheado de beijos bucais e abraços eróticos que só promovem a excitação sexual e a defraudação. Recomendo as demais postagens sobre o assunto escritas por meus colegas aqui mesmo neste espaço virtual.

É preciso dizer que por namoro entendo aquele período de diálogo, oração e comunhão com os pais, período este destituídos de qualquer contato físico que promovam, por menor que seja, a excitação sexual.

A reflexão proposta aqui é sobre a escolha do futuro cônjuge, uma vez que muitos jovens cultivam dúvidas quanto ao assunto. Dúvidas que promovem a seguinte pergunta: “como saber a vontade de Deus para saber com quem devo me casar”?

Ao contrário daquilo que muitos pensam, esta importante escolha não ocorre por uma revelação vinda do alto ou por um sonho de uma noite de verão. Ela ocorre por uma utilização da inteligência que possui como lastro as Sagradas Escrituras e a confiança na ação de Deus que responde a nossa oração conforme o amor, a justiça e a misericórdia.

Indo direto ao assunto, quero propor aqui quatro critérios para a escolha daquele ou daquela que caminhará conosco até o fim da vida:

Compatibilidade de fé: Para que duas pessoas pensem em casamento devem, a rigor, saber que iniciar um relacionamento com descrente é, indiscutivelmente, estar em pecado diante do Senhor Deus. A Lei divina é clara quanto a isso: é proibido o ajuntamento entre um crente e um descrente. Muitos tentam relativizar este princípio indelével e caro ao Senhor que adotou para si mesmo a exclusividade de seus filhos. Mas o jugo desigual é abominação. Isto posto, também acredito que devemos pensar em jugo “desigual” (aspeado mesmo) entre duas pessoas que se denominam evangélicos. O ponto a se ponderar é a teologia envolvida que, via de regra, são opostas em aspectos que envolvem a eclesiologia (visão de igreja, liturgia, forma de batismo etc.) e pneumatologia (doutrina que trata do Espírito Santo). Não tenho dúvidas que o casamento entre um arminiano e um reformado ou entre um conservador e um pentecostal certamente gerará problemas no relacionamento salvo quando um abre mão completamente de suas convicções, pelo menos quanto às práticas. Quando alguém busca sua outra metade deve ter certeza de que a teologia envolvida é semelhante.

Anuência dos pais: A participação dos pais nesta escolha não se limita a um pequeno detalhe ou prática de somenos. Todo jovem crente deve pedir autorização do pai e da mãe, bem como dos sogros em potencial. A lógica é muito simples, trata-se dos futuros avós dos filhos que virão no futuro. Ambos serão parte ativa da família neste convívio que durará até a morte. Neste contexto alguns perguntam “e quando os pais não são crentes e proíbem movidos por motivos mesquinhos?” Bem, isso não dá liberdade para a desobediência. Lembremos aquilo que Salomão afirma: Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer” (Pv 21: 1). Isso significa dizer que assim como um humilde agricultor pode mudar o curso das águas de um riacho para regar a sua plantação, o Senhor Deus possui o coração do homem mais importante e temido da sociedade em sua mãos. Quando os pais, mesmo descrentes proibem, independente de suas motivações, o jovem deve orar ao Senhor para que mude o coração de ambos. Se for da vontade do Pai, haverá mudança, caso contrário, é melhor desistir.

Visão de futuro: Imaginemos o seguinte: a moça possui chamado para trabalhar no Camboja como missionária, já o rapaz pretende ser um profissional liberal na cidade onde vivem. Muitos diriam: “mas o importante é que se amam muito e, no final das contas, acertarão as arestas, certo?” Errado! Este critério deve ser descoberto com muita conversa, pois, das duas, uma, ou um desiste numa boa de seus projetos de vida, ou haverá grande frustração ao longo da vida. O período denominado de namoro não deve ser utilizado para contato físico, deve ser utilizado para muita conversa e oração para que venham a tona estas questões.

Tempo de namoro: Quando sinto fome, procuro comida. Quando sinto sede, procuro água (ou um refrigerante light). O mesmo princípio se aplica ao namoro pois quando desejo me casar, devo procurar alguém de Deus para isso. É absolutamente pouco inteligente alguém iniciar um namoro tendo como prioridade um curso acadêmico com duração de cinco anos ou a construção de uma casa pelo período de seis anos. Se alguém inicia um namoro significa que o casamento é sua prioridade zero num curto espaço de tempo. Ninguém deve namorar por um período menor que dois anos e mais de três anos. A falta de objetivos promove o relacionamento perigoso que, com o passar do tempo, leva ao pecado sexual (que vai do beijo bucal ao coito). Ninguém deve namorar por namorar, se se inicia o namoro, isso significa que o casamento passou a ser a minha prioridade zero quanto ao meu futuro. Lembro também que ninguém deve namorar com pouca idade. O correto é ele ter 21 anos e ela 20 anos no mínimo.

Concluo esta postagem fazendo os seguintes acréscimos: primeiro, em um relacionamento, a paixão deve ser o último critério a ser considerado, aliás, nem deveria ser critério para a escolha. Quando falo paixão, sentimento que se baseia apenas na atração física, isso não deve ser confundido com o amor, sentimento que inclui e ultrapassa a atração física, abrangendo todo o ser. Este amor completo, sim, deve ser utilizado como critério na escolha. Segundo, o homem deve sempre demonstrar maturidade com Deus maior ou semelhante a da mulher, nunca aquém. E, terceiro, sempre deve haver o acompanhamento e aconselhamento feito por um pastor ou um casal experiente.

Acredito que se os jovens crentes seguirem estes princípios, certamente terão grandes chances de constituir um matrimônio maduro e abençoado pelo Senhor Deus.

Sola Scriptura.

25 de março de 2011

A Palavra de Deus e a salvação

pregador expositivo

Quando escreveu sua segunda epístola a Timóteo, Paulo, após elogiá-lo, fez uma recomendação: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Tm 3.14,15).

O texto é claríssimo e ensina que a Palavra de Deus é suficiente, ou melhor, é a única fonte para que alguém se torne sábio para a salvação pela fé em Cristo.

Ainda assim, muitas denominações evangélicas têm se deixado influenciar pelo pragmatismo e têm recorrido a vários métodos que supostamente têm dado certo para trazer pecadores ao “arrependimento”. O problema aqui é que, na ânsia de trazer pessoas para as igrejas, os métodos não têm sido questionados e analisados pelo crivo da Santa Palavra de Deus.

Como exemplo disso temos as várias igrejas ligadas a um movimento denominado “Sensível aos Interessados”. Esta ideia está presente em um livro que há alguns anos foi moda no Brasil, Uma igreja com propósitos. Neste livro o autor, Rick Warren, divulga ideias do tipo: pregar o evangelho nos termos do incrédulo a fim de que seja agradável e fácil eles se tornarem crentes, e mudar os métodos sempre que necessário. Para isso, ele ensina: “Estabeleça um culto voltado intencionalmente ao objetivo de que os membros da igreja tragam seus amigos. E torne esse culto tão atraente, agradável e relevante aos sem-igreja, que os membros de sua igreja ficarão ansiosos por compartilhar esse culto com os perdidos pelos quais eles se interessam.”[1]

John MacArthur afirma que alguns dos gurus desse movimento aconselham inclusive a retirar do sermão todas as referências explícitas à Bíblia e ensinam a nunca pedir à congregação para abrir a Bíblia em um texto específico, pois os “interessados” ficam desconfortáveis com essa atitude.[2]

Para esse tipo de movimento, a quantidade de pessoas atraídas ao culto valida o método, afinal, os fins justificam os meios.

Infelizmente não são poucos aqueles que têm aderido a esses modismos para ver a igreja crescer. De fato, muitas igrejas crescerão dessa forma, mas será que haverá vidas salvas e transformadas?

Precisamos crer de todo o coração no que Paulo afirmou a Timóteo: as Escrituras é que tornam o homem sábio para a salvação. O próprio Senhor Jesus afirmou certa vez: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38). Paulo, agora escrevendo aos romanos, assevera que “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela Palavra de Cristo” (Rm 10.17).

É por meio da Palavra de Deus, e não de técnicas humanas, que o Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Por esta razão é que Paulo, depois de afirmar a Timóteo que a Palavra de Deus é que torna o homem sábio para a salvação, continua sua argumentação dizendo que toda a Escritura é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça (2 Tm 3.16). Essa utilidade da Escritura, conforme Paulo, tem um fim: é para “que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.17).

Ao crer na suficiência das Escrituras para a salvação, a igreja não precisará recorrer a métodos humanos para que os homens creiam e, assim, glorificará o Senhor.

O livro de Atos dos Apóstolos nos ensina claramente que o crescimento da igreja está intimamente ligado à Palavra de Deus, a ponto de Lucas, ao se referir algumas vezes ao crescimento da igreja, afirmar: “crescia a Palavra de Deus” (At 2.42,47; 6.7; 12.24; 16.4,5; 19.18-20).

O Senhor Jesus, ao comissionar os seus discípulos, não pediu que eles inventassem métodos e nem que negociassem a Palavra, antes ordenou que eles fizessem discípulos ensinando-os a guardar tudo o que ele havia ordenado (Mt 28.19,20). Isso implica que a Palavra é suficiente e, portanto, deve ser proclamada tal como é. Os resultados pertencem ao Senhor.

Não devemos dar lugar ao entretenimento ou à busca da satisfação pessoal, pois não é isso que traz salvação ao homem. Como ensinou o nosso Senhor, a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.7) e é a verdade que liberta o homem (Jo 8.32).

Creiamos, portanto, que a Escritura é suficiente para a salvação.


[1] Rick Warren. Uma igreja com propósitos. São Paulo: Vida, 1997, p. 253

[2] John MacArhur. Pregação Superficial. In “Fé para Hoje”, nº 30 – ano 2007: São José dos Campos: Fiel, p. 7

21 de março de 2011

Casados, porém Sozinhos

wife-alone

A tentação de muitos, debaixo de pressão, é isolar-se, hibernar como um urso em sua caverna no inverno. Embora essa pareça uma alternativa atraente, é somente com o apoio de amigos que poderemos suportar as misérias desta vida.” (A. Nicodemus).

É possível ser casado, mas ao mesmo tempo sentir-se sozinho, isolado? Parece uma pergunta estranha, porém o isolamento acontece até mesmo entre pessoas tão íntimas como marido e mulher. Com isso não quero dizer que ficar sozinho às vezes é algo inerentemente mal. Quando Jesus nos ensina a respeito da oração devocional e particular, por exemplo, ele nos diz que isso deveria ser feito secretamente (Mt 6.6). Ele mesmo procurava lugares isolados quando necessitava orar ao Pai e desfrutar de comunhão com Ele.

Contudo, o isolamento a que me refiro é fruto do espírito da época em que vivemos e que está separando o marido de sua mulher cada vez mais para longe um do outro, em vez de produzir intimidade, companheirismo e amizade.

A sociedade brasileira pós-moderna caracteristicamente veem fragmentando ou colocando em compartimentos as relações interpessoais a ponto de vivermos por vezes isolados. As pessoas podem viver numa mesma casa com muitas outras e ainda assim viver isoladas delas. A situação é ainda mais grave quando refletimos e consideramos que fomos criados como seres sociais. As consequências trágicas, portanto de se viver em isolamento geralmente provoca tristeza, ansiedade, angústia e depressão, e, em casos extremos, o suicídio.

Que fatores têm contribuído para que maridos e esposas se sintam cada vez mais solitários?

(1) Cosmovisões diferentes tendem a separar os casais. No mundo em que vivemos as diferentes percepções da vida, da fé e da família com sua diversidade de sistemas e valores tão complexos separam os casais. Esse é um problema antigo, mas que com o passar dos séculos vem se agravando à medida que as pessoas nascem e crescem sob visões de mundo completamente diferentes.

(2) A pós-modernidade tem passado a ideia de que o casamento é um relacionamento na base do meio a meio. Você paga as contas e eu a prestação da casa. Eu pago a escola dos meninos e você o supermercado. No primeiro domingo eu vou para a igreja, mas no próximo eu descanso e você é quem vai! Isto é, cada um dá um pouco de si. Mas será que isso funciona de verdade? A Bíblia nos ensina que o padrão cristão não é meio a meio (50/50), mas 100/100. O casamento cristão envolve uma total entrega (Ef 5.22-33). Eu não posso dar uma parte do meu tempo, da minha vida, mas investir tudo de mim em favor do meu cônjuge.

(3) O egoísmo é provavelmente a maior ameaça à unidade do casal. Quando eu busco a minha própria realização pessoal e deixo meu cônjuge de lado, estou sendo egoísta. Acreditar que o marido pode obter sucesso independentemente do apoio e colaboração de sua mulher e ainda manter um bom casamento é uma ilusão bastante comum em nossos dias. Na prática, isso nunca dá certo.

4) Problemas não resolvidos. Quando o casal guarda as mágoas do passado, não resolvendo problemas pendentes, a tendência é cada um viver em sua própria “ilha”, isolado. Pesquisas mostram que grande parte dos casais que passam por experiências traumáticas que não são devidamente tratadas, se separam ou se divorciam.

(5) A popularização da infidelidade conjugal. A mídia tem se ocupado em popularizar a ideia de que a traição é algo normal. Não somente o adultério consumado, mas o adultério emocional (exemplo: uma amizade muito íntima com alguém do sexo oposto) provoca o isolamento entre os cônjuges. A infidelidade começa sempre no coração (Mt 5.28).

(6) O estilo de vida frenético. O ritmo de vida acelerado do mundo atual contribui para que cada vez mais vivamos estilos de vida separados uns dos outros. Quase não temos tempo para conversar com o nosso cônjuge ou nossos filhos sobre o que fazemos no dia-a-dia.

(7) Outro fator é nosso hábito cada vez mais comum de eliminar o contato humano preferindo os atuais meios de comunicação. O hábito brasileiro de assistir TV é um problema muito mais grave do que aparece na tela. Membros de uma família podem estar juntos na mesma sala assistindo TV, e estar perfeitamente isolados uns dos outros. Você já percebeu que a grande maioria dos moradores das grandes cidades mesmo cristãos raramente conhece seus vizinhos? Todo o moderno sistema de comunicação produzido atualmente pela sociedade tende a eliminar cada vez mais o contato humano: Internet, email, redes sociais, etc.

O isolamento é uma ameaça séria mesmo para casais cristãos.

O problema é que quanto mais nos isolamos em nossas “ilhas particulares”, mais e mais nos desconectamos uns dos outros. Como o casal cristão deve encarar esse desafio imposto pela pós-modernidade? Os cristãos precisam perceber que se não tomarem as providências necessárias e se não tratarem dessa ameaça juntos, acabarão por viver isolados uns dos outros, mesmo debaixo do mesmo teto. Muitos casais casados têm sexo, mas não amor; isso quando ainda tem sexo! O erro típico que muitos casais cometem é não antecipar que os problemas mencionados acima podem ocorrer com eles. E quando os problemas surgem, são apanhados de surpresa![1]

Como os casais cristãos podem vencer o isolamento?

(1) Aproximando-se mais de Deus. Quando buscamos uma maior intimidade com o Senhor através da leitura da Bíblia e oração diária somos capacitados por Deus para nos aproximar do nosso cônjuge. Isso me faz lembrar a ação graciosa de Deus quando foi ao encontro de Adão e Eva. O pecado poderia ter causado o isolamento entre os nossos primeiros pais, mas a comunhão restauradora do Senhor trouxe aos seus corações esperança.

(2) Planejando bem o tempo juntos. Procure gastar tempo com seu cônjuge fazendo coisas que ambos apreciam. Eu sei que em geral os homens gostam de assistir futebol e as mulheres de filmes românticos. Entretanto, planejando bem a qualidade do tempo que passamos juntos enquanto casal, conversando, passeando, viajando ou fazendo qualquer outra coisa em comum quebrará toda e qualquer ideia de viver isolado.

(3) Exercitando o perdão e buscando a reconciliação. O seu cônjuge pode estar isolado porque você o ofendeu ou magoou. Na vida conjugal é preciso em alguns momentos deixar o orgulho e a vaidade de lado, pedir perdão e buscar a reconciliação com aquele(a) que tanto amamos. A Bíblia nos ensina: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo” (Ef 4.32).

(4) Buscando ajuda espiritual. Quando a coisa apertar não deixe de buscar ajuda espiritual. Pastores, presbíteros e conselheiros cristãos são vocacionados por Deus para apascentar as famílias oferecendo por meio da Bíblia apoio e soluções para momentos de crise conjugal.

Não deixe que o isolamento acabe a alegria e o prazer do seu casamento. Parece estranho, mas casados também podem ser felizes juntos!

Pr. Alan Kleber


[1] LOPES, Augustus Nicodemus. Maridos solitários, esposas solitárias. http://www.ipb.org.br/portal/artigos-e-estudos.

18 de março de 2011

Paulo Disse Que Era Melhor Não Casar?



No texto anterior vimos que a sociedade, a mídia, a família, os amigos e muitas vezes nós mesmos pressionamos em matéria de relacionamento pré-nupcial e conseqüente casamento.

Esse ensino tem feito algumas pessoas questionarem se são ou não aptas para o casamento ou se encontrarão de outra forma, que não no tradicional namoro, um cônjuge com quem possa dividir o restante da sua vida. Alguns chegam a pensar que a afirmação de Paulo em I Coríntios 7 de que seria bom que o homem não tocasse em mulher aponta para a idéia de que é mais santo manter-se não casado; mas, deixe-me adiantar, nada mais longe da realidade.

Tenho afirmado que o namoro atual não prepara ninguém para o casamento. Ele pode até terminar em casamento e, pela graça de Deus ser um bom casamento, como acontece com alguns, mas a verdade é que esse modelo tem mostrado ser, na verdade, uma preparação para o divórcio[1], e não para o casamento. Mas, então, o que fazer para encontrar o cônjuge ideal?

1)      Aprenda com o Fruto do Espírito

É na carta aos Gálatas que Paulo nos ensina que a vida cristã não deve ser pautada por tolices de regras humanas pré-fabricadas e escravisadoras, mas que devemos buscar o Fruto do Espírito, contra o qual não há lei (Gl. 5:22,23).

A total confiança em Deus em matéria de relacionamento há muito tempo deixa de fazer parte da agenda da nossa juventude que têm vivido um ateísmo prático, embora muitos confessem a sua fé e confiança em Jesus. A maioria acha que é sábio e auto-suficiente em matéria que envolve o coração e termina por ouvir a voz do coração, a despeito da Palavra afirmar que é do próprio coração que os maus desígnios são produzidos (Mateus 15:19), pois ele é desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9,10).

O Fruto do Espírito nos ensina que não deveríamos fazer o que é do nosso querer (Gl. 5:17), mas nos submeter aos gomos que esse fruto nos trás. Vejamos apenas alguns deles em observância a esse ensino:

Amor: Palavra que geralmente é confundida com paixão! A Bíblia coloca um peso verbal nessa palavra quando nos ordena amar (Gl. 5:14 – mesmo contexto); ora, como podemos controlar um sentimento?

O amor bíblico é mais grandemente aferido exatamente quando a paixão deixa de existir. A confusão em relação a essas palavras é o que tem feito muita gente divorciar declarando que o amor acabou, mas a Bíblia, ao contrário, diz: o amor jamais acaba (I Co. 13:8).

A conclusão aqui é que muitos são preparados para o divórcio quando se entregam no namoro à paixão pensando que é amor e só descobrem mais tarde que o amor nunca existiu. Você, jovem, está sendo instruído de antemão a não cair na cilada de pensar que sabe mais do que a própria Escritura. Aliás, veja o que diz Salomão: A loucura é mulher apaixonada, é ignorante, e não sabe coisa alguma (Provérbios 9:13).

Alegria e paz: A espera para alguns (especialmente algumas) jovens por vezes é desesperadora. Acham que estão ficando velhas e que vão ficar para titia, mas a Bíblia nos ensina o grande valor do contentamento e da paciência e esperança no Senhor. Quando tentamos fazer do nosso jeito (como Sansão que seguiu o seu coração), não podemos exigir de Deus mais do que sofrimento e angústias, mas se esperarmos confiadamente no Senhor, ele se inclinará para nós, segundo sua própria promessa.

Sendo assim, a espera pela Providência (sem relacionamento), curtindo a bênção da solteirisse cristã, deve ser com alegria e paz no coração, sabendo que sua confiança está depositada naquele que faz com que todas as coisas cooperem para o bem.

Você pode seguir o seu próprio coração nessa matéria e não dar ouvidos às minhas palavras aqui, mas não espere de Deus mais do que Ele promete. Nesse caso, não diga quando estiver sofrendo as conseqüências de seguir seu coração que não sabia que isso aconteceria.

Haveria outros, mas meu favorito é o Domínio Próprio: Ele ensina que mesmo o coração pode ser dominado (Provérbios 4:23) pelo crente, pos isso você não tem a velha desculpa que estava cega pela paixão. A domine pelo poder de Cristo e seja racional para dar o passo mais importante de sua vida em direção ao altar, tendo a tranqüilidade de saber que contra essas coisas, não há lei.

2)      Abra o Olho – ele/ela pode estar mais perto do que você imagina

Muitos jovens me procuram dizendo que sua Igreja não tem jovens do sexo oposto para casar. Quando se trata de adolescentes eu agradeço a Deus com eles, pois é cedo mesmo para pensar nessas coisas, mas quando já se chega em idade própria para o casamento, me surpreendo como moças e rapazes me procuram com o mesmo ´problema´, na mesma Igreja!

Onde reside o problema então? Nos olhos? Será que eles estão tão cegos que não conseguem se enxergar? Não! O problema está no coração e na inversão total de valores no que tange às exigências para essa futura relação.

Quando chegam à conclusão que ele/ela precisa ser crente, acham que todas as exigências espirituais estão aí supridas, e buscam agora priorizar coisas como: aparência, classe social, fama e coisas dessa natureza. Não afirmo que atração física é algo de somenos importância, pois Deus nos fez para o prazer do nosso cônjuge, mas certamente seremos felizes se soubermos colocar exigências efêmeras em seus devidos lugares, pois elas facilmente seriam saneadas ao vermos qualidades muito mais excelentes, como nos afirma a sabedoria dessas palavras: enganosa é graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada (Provérbios 31:30).

Não é raro Deus receber a culpa pelos nossos erros. Adão já disse: foi a mulher que tu me desses por esposa, da mesma forma muitos querem culpar Deus por não acharem sua cara-metade, mas não são raras as vezes que vemos homens e mulheres desperdiçarem presentes de Deus porque seus olhos estão fitos em si mesmos e não no Senhor. Se for esse o seu caso, deixe de olhar para o outro com os olhos da carne e seja feliz com o que Deus tem para você, pois é o melhor, sempre!


[1] Espero escrever sobre o que penso em divórcio e novo casamento no próximo post; quando, entre outros textos, abordarei I Coríntios 7.

12 de março de 2011

Por que Calvinistas não orariam?


Pensar que a soberania e a fidelidade de Deus à nosso favor dispensa a oração, seria uma errônea conclusão que alguém facilmente chegaria se não entendesse as doutrinas da graça. Os reformados são conhecidos por crerem num sistema que ensina o soberano decreto de Deus como a expressão da sua perfeita vontade, ou as determinações eternas de tudo o que é, do que foi, e do que será na criação, na história, e na salvação. É uma doutrina consistente em que vê o decreto e a oração não como forças contrárias, mas como causa e efeito, numa perfeita relação entre o Senhor e os seus servos.

A Escritura Sagrada ensina que Deus predeterminou tudo e, Ele mesmo nos estimula a orar por vários motivos. Nele esperamos o nascimento (Sl 139 15-16), o curso da vida (Jr 10:23), o controle sobre cada pensamento e palavra (Pv 16:1), o poder e a autoridade dos homens, bem como a sua incredulidade (Êx 9:16) e o desenfreio da impiedade (1 Pe 2:8). Ao evangelizar podemos orar por cada parte da salvação, incluindo o chamado (Rm 8:28), a fé daqueles que crêem (At 13:48), as boas obras de santificação (Ef 1:3-4; 2:10), e a herança da glória (Ef 1:11). Também é possível orarmos por todas as coisas no céu e na terra (Sl 135:6-12).[1] Deste modo, confessamos pela oração que “o nosso Deus está nos céus; tudo faz segundo a Sua boa vontade” (Sl 115:3).

A oração não funciona como um instrumento de manipulação dos caprichos ou necessidades humanas. Não somos nós que mudamos o eterno propósito de Deus com a nossa oração, mas Ele nos aperfeiçoa no cumprimento diário de Sua vontade em nós. R.C. Sproul esclarece que
o mais importante, é que a oração é que nos transforma. Podemos envolver mais profundamente nesta comunhão com Deus e conhecer Aquele com quem estamos falando mais intimamente, e um crescente conhecimento de Deus é revelado ainda mais brilhante, e o que somos e a nossa necessidade é transformada, conforme Ele quer. A oração nos altera profundamente.[2]

Então, ao aplicar a sua graça, Deus desenvolve a sua salvação em todo um processo aperfeiçoando-nos por meio da sua providência. A nossa oração se relaciona diretamente com o governo de Deus e o desdobramento de sua vontade eterna. Não há o que questionar, pois sabemos que “é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fp 2:13, NVI).

Deus nos prepara para conceder àquilo que Ele quer nos dar. Ele cria a necessidade, nos dá percepção da nossa carência, concede-nos a fé necessária e confirma o seu amor providencial ao manifestar a sua vontade à nosso favor. Em tudo descobrimos a sua glória nos envolvendo numa ininterrupta dependência dEle. Calvinistas oram porque estão convencidos da riqueza da graça de Deus. O puritano John Owen percebeu que
a principal finalidade da oração é estimular e despertar o princípio da graça, da fé e do amor no coração devido aos santos pensamentos de Deus. Aqueles que não têm este propósito na oração, realmente não sabem o que é orar. Uma constante assistência sobre este dever preservará a alma de uma estrutura onde o pecado não pode habitualmente prevalecer nela.[3]

Somente podemos orar capacitados pelo Espírito Santo. Paulo nos revela que “da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8:26, NVI). Isto significa que o Espírito Santo “garante a disposição e desejos, concede as palavras na boca, segue adiante delas, e causa-as para orar depois delas.”[4] O aspecto prático desta doutrina é que o exercício da oração sempre é surpreendente! Se entendêssemos e vivêssemos esta dinâmica não teríamos como desanimar de orar. Edwin H. Palmer nos afirma que
se a nossa vida de oração é monótona e enfadonha, se é pesada, se sentimos que não estamos em contato com Deus, como se as nossas orações não chegassem a Ele, se não sabemos para que orar, se a oração não é um meio poderoso em nossa vida, então podemos recorrer ao Espírito da oração e pedir-lhe que venha a nossa vida, de forma mais plena, para ajudar-nos nesta debilidade. Se assim fizermos, com fé e esperança, Ele virá a nós e revolucionará a nossa vida de oração. Porque Ele é o segredo da oração, do mesmo modo que é o segredo de toda a vida santa. Sem Ele nada podemos fazer. Mas, com Ele podemos ser transformados e viver vidas que sejam espiritualmente ricas, ativas e alegres.[5]

Um calvinista vive a sua oração. Isto não significa que ele está constantemente de olhos fechados, mas que a disposição de sua alma continuamente está na dependência do soberano Deus. Nathaniel S. McFetridge observa que
muitos homens possuem um compartimento onde está esta atitude em sua oração, e ela é desligada de suas vidas com o seu Amém, e quando se levantam de sobre os seus joelhos assumem uma atitude totalmente diferente, se não do coração, mas pelo menos da mente. Eles oram como se dependessem somente da misericórdia de Deus; entretanto, eles pensam – como se fosse possível enquanto viverem – como se Deus, em algumas de suas atividades menores, fosse dependente deles. O calvinista é o homem que está determinado a preservar o que ele recebeu em oração em todos os seus pensamentos, em todos os seus sentimentos, em tudo o que faz. Isto quer dizer que, ele é o homem que está determinado a fazer que a religião em sua pureza venha a sua plena retidão em seus pensamentos, sentimentos e vida. Este é o fundamento de seu especial modo de pensar, a razão pela qual ele é chamado um calvinista; e de igual modo especial age no mundo, a razão pela qual ele se torna a maior força regeneradora no mundo. Outros homens são calvinistas sobre os seus joelhos; o calvinista é o homem que está determinado que o seu intelecto, coração e vontade permanecerão sobre os seus joelhos continuamente, e a pensar, sentir e agir somente a partir deste fundamento. Calvinismo é, antes de tudo, aquela espécie de pensamento no qual vem a sua verdadeira atitude religiosa de dependência interna de Deus e humilde confiança somente em sua misericórdia para a salvação.[6]

Concluindo, podemos pensar que toda oração é essencialmente feita em três aspectos. Benjamin Palmer afirma que a oração
é o apelo da criatura dependente; é o lamento do culpado pecador; e ainda, é a articulada adoração de uma alma inteligente. Sob o primeiro aspecto, Deus é considerado em sua relação natural como o criador e preservador de todas as suas criaturas. Sob o segundo, ele é contemplado em sua graciosa relação como o redentor e salvador dos pecadores. E por último, ele é adorado em sua consumada santidade e glória.[7]

É na busca da benção do Pai, pela mediação do Filho e testemunho do Espírito Santo que oramos. O Catecismo Maior de Westminster questiona - O que é oração? E a sua resposta é: oração é um oferecimento de nossos desejos a Deus, em nome de Cristo e com o auxílio de seu Espírito, e com a confissão de nossos pecados e um grato reconhecimento de suas misericórdias.[8] Não existe relação trinitária mais completa do que desfrutamos da oração como meio de intimidade com Deus. Por que calvinistas não orariam?

NOTAS:
[1] Ronald Hanko, Doctrine according to Godliness - A Primer of Reformed Doctrine (Grandville, RFPA, 2004), p. 73.
[2] R.C. Sproul, The Prayer of the Lord (Orlando, Reformation Trust Publishing, 2009), pág. 14
[3] Extraído de Roderick MacLeod, The Puritans on Prayer em http://www.fpchurch.org.uk/magazines/fpm/2002/May/article6.php acessado em 12 de Março de 2011.
[4] Wilhelmus à Brakel, The Christian’s Reasonable Service (Pittsburgh, Soli Deo Gloria Publications, 1994), vol. 3, pág. 452.
[5] Edwin H. Palmer, El Espíritu Santo (Edinburgh, The Banner of Truth, 1995), págs. 194-195.
[6] Nathaniel S. McFetridge, Calvinism in History – A political, moral and evangelizing force (Birmingham, Solid Ground Christian Books, 2004), pág. 2.
[7] Benjamin M. Palmer, Theology of Prayer (Hess Publications, 1998), pág. 15.
[8] Pergunta e resposta – 178.

3 de março de 2011

Do terror à comédia ou, o que estão fazendo com o evangelismo?

theatre-mask1 As Escrituras falam de forma inequívoca sobre a tarefa de evangelização da igreja. É sua missão fazer discípulos de todas as nações, ensinando-os a guardar todas as coisas que o Senhor Jesus ordenou (cf. Mt 28.18-20). Para cumpri-la os discípulos foram ordenados a ser testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra (At 1.8).

Observando o livro de Atos percebe-se rapidamente que já em seu início a igreja começou cumprindo muito bem o seu papel. Só para exemplificar temos, no capítulo 2, Pedro pregando um sermão extraordinário que leva a multidão a perguntar o que fazer para receber a salvação. A resposta é imediata: “arrependei-vos [...] para a remissão dos vossos pecados” (At 2.38). No capítulo 8 vemos também Filipe, diácono da igreja, sendo enviado ao deserto e encontrando ali um eunuco que lia o profeta Isaías. Ele se aproxima do carro e tem a oportunidade de anunciar o evangelho. Chama a atenção o registro de Lucas dizendo que Filipe “começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus” (At 8.26-40).

Meu ponto aqui é destacar que o anúncio do evangelho deve levar em conta toda a Escritura. Aqueles que ouvem a mensagem da salvação devem entender que todos os homens caíram em Adão estando, por isso, separados de Deus e sob sua justa e santa ira. Devem ser comunicados de que o salário do pecado é a morte, mas que Deus, em sua infinita misericórdia, puniu seu próprio Filho que tomou sobre si os pecados do seu povo na cruz do Calvário a fim de que, pela fé nessa obra redentora, o pecador arrependido seja reconciliado com Deus.

A Bíblia é bem clara ao enfatizar que o homem natural, morto em seus delitos e pecados é incapaz de compreender essa mensagem (1Co 2.14; Ef 2.1), por isso mesmo, cabe ao Espírito do Senhor convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8) e lhe conceder a fé salvadora, pela graça de Deus (Ef 2.8). A evangelização, nesses moldes, tem o Senhor como centro e o glorifica do início ao fim.

Sendo assim, o papel da igreja na evangelização deveria ser o de fidelidade à mensagem bíblica anunciando a miséria em que o pecador se encontra, demonstrando que, por isso, ele está perdido e apontando para o amor de Deus evidenciado na cruz do Calvário, na esperança de que o Senhor salvará a quem quiser pela loucura da pregação (1Co 1.21).

A despeito disso, a evangelização teocêntrica que acontecia de forma natural na igreja primitiva foi perdendo espaço. A proclamação que era feita primeiramente para a glória de Deus, começou a ser feita porque o homem precisa ser salvo. Veja bem, não estou nem de longe dizendo que ao evangelizar não devemos ter expectativas de que o Senhor salvará pecadores, mas que o alvo principal da evangelização não pode ser esse e sim a glória de Deus. Parece uma besteira o que estou afirmado, mas pense nas implicações:

Quando se evangeliza teocentricamente, isto é, pensando primeiramente na glória de Deus, não há porque negociar a mensagem por mais dura que possa parecer. Tem-se a certeza de que, pela exposição fiel da Escritura, Deus chamará pecadores ao arrependimento.

Quando, porém, a evangelização é antropocêntrica, pensando primeiramente em salvar o pecador, a mensagem acaba por ser deturpada, pois o objetivo é convencer, a qualquer custo, o homem de que ele deve se voltar para Deus. Daí acontecem as distorções, das quais destacarei somente duas que tenho percebido desde minha conversão.

A evangelização do terror

Eu ainda era neófito quando assisti na igreja que frequentava uma peça intitulada “A última trombeta”. O teatro, de orientação pré-milenista dispensacionalista, era baseado numa pretensa revelação dada pelo Senhor em 1952 e mostrava os horrores que acontecerão por ocasião do arrebatamento: famílias desesperadas pelo sumiço dos parentes e amigos e grande desespero de muitos que entenderam que Jesus havia buscado os seus e eles, que não tinham subido no arrebatamento, teriam de enfrentar a grande tribulação.

Quando a peça terminou e houve o apelo, quase me converti novamente, de tão amedrontado que fiquei. O medo ainda me impeliu a querer ser mais santo, não para que Deus fosse glorificado nisso, mas para não correr o risco de acabar parando no inferno. Muitos naquele dia também “creram”, mas simplesmente por causa do medo e não por amor ao Redentor que morreu a nossa morte a fim de termos vida.

A tendência ao terror também era frequente na boca dos pregadores. Ouvi certa vez, já na época do seminário, uma excelente exposição de um pastor sobre Paulo no Areópago, mas no fim ele conseguiu estragar tudo. Ao fazer o apelo, contou a história do voo da TAM que havia partido de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro, mas que não chegou ao destino porque o avião caiu e todos morreram. Logo veio a pergunta: “E se você estivesse naquele voo?” e emendou: “Creia antes que seja tarde”. Novamente pessoas “se decidiram” por Jesus, mas, no fim das contas, ao invés de louvar o Salvador por sua obra bendita na cruz para nos libertar do pecado e nos reconciliar com Deus, pareciam mais estar assinando uma espécie de seguro de vida gospel, só para garantir, caso acontecesse alguma coisa ao sair da igreja.

Não nego a verdade bíblica que o Senhor virá com sua ira sobre todos aqueles que não se renderem a ele, mas quando a evangelização pesa muito mais para essa parte da história, deixa-se de falar da provisão de Deus para que o homem tenha redenção. A lógica parece ser a de que, mesmo que seja por medo, o importante é o homem “aceitar a Jesus”.

A evangelização da comédia

Nos últimos tempos, porém, uma nova tendência assola a igreja, a de fazer graça com o Evangelho. A ideia é tirar o peso e a seriedade da mensagem, deixando-a mais light, para que os homens não a vejam com tanta antipatia.

Os discursos para validar a prática são os mais variados e vão desde a afirmação de que “Deus é humor” até uma que li dia desses que dizia que o humor das parábolas de Jesus pode ser a chave hermenêutica para a compreensão de suas histórias.

Conquanto eu entenda que Jesus usa da ironia por várias vezes em seus ensinos, isso não justifica alguém vestir-se de palhaço para tornar o evangelho mais palatável. Um amigo falou esses dias que, do jeito que as coisas vão, daqui a pouco teremos um “stand-up preach”, numa alusão à bola da vez no mundo do humor, a stand-up comedy.

Não estou levantando a bandeira do “pastor carrancudo”. Não creio que precisemos ser assim para comunicar o evangelho, mas o outro extremo é também pernicioso. Hermisten Maia, em seu excelente texto (O palhaço e o profeta: uma indefinição de nossos dias), cita acertadamente uma crítica de Albert Martin: “O esforço desnatural de certos pregadores para serem ‘contadores de piadas’, entre a nossa gente, constitui uma tendência que precisa acabar. A transição de um palhaço para um profeta, é uma metamorfose extremamente difícil”[1]. No mesmo texto ele escreve:

Imaginem um jovem entre centenas de outros, ansiosamente procurando seu nome nas listas afixadas nas paredes na universidade a fim de saber se foi aprovado ou não no vestibular. De repente surge um amigo com um sorriso largo e com os braços abertos, dizendo: “parabéns, você foi aprovado”. O jovem dá-lhe um abraço apertado, pula, grita, ri, chora, comemora... Depois de alguns minutos de euforia, aquele “amigo” diz: “É brincadeira; seu nome não consta entre os aprovados”. Se você fosse aquele vestibulando, como reagiria? Pense nisto: Se você corretamente não admite brincadeiras com coisas sérias, o Evangelho, que envolve vida e morte eternas, seria passível de brincadeiras, de gracejos? A pregação é assunto para profetas, não para palhaços. Pensemos nisso[2] (grifo meu).

Voltando ao padrão

Quando a salvação do homem é a primeira e principal razão para a pregação do Evangelho muda-se a mensagem a fim de que por medo, ou por divertimento, os homens se acheguem a Cristo.

Quando, porém, a preocupação primeira é a glória de Deus, a igreja pode pregar com fidelidade e com toda a seriedade devida, sabendo que o Senhor cumprirá os seus planos e salvará o seu povo.

Como afirmei no princípio, é tarefa da igreja evangelizar. Entretanto, sendo Deus o autor da salvação e sendo a sua glória a razão primeira para a proclamação devemos, mais do que nunca, voltar ao padrão estabelecido na Palavra. O Deus que ordenou a evangelização estabeleceu também o modo como a igreja deve lidar com sua Palavra.

Que o Senhor nos ajude a ter o foco correto na evangelização e que, pela pregação fiel da Escritura, aqueles que são dele sejam alcançados pela graça bendita de Cristo Jesus, nosso Redentor.

Milton Jr.


[1] Albert N. Martin. O que há de errado com a pregação de hoje?, São Paulo, Fiel, p. 23, citado por Hermisten M. P. Costa. O Palhaço e o profeta: uma indefinição de nossos dias. Fonte: www.seminariojmc.br

[2] Hermisten M. P. Costa. O Palhaço e o profeta: uma indefinição de nossos dias. Fonte: www.seminariojmc.br