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2 de agosto de 2010

Ide “por tanto”

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Quando o Senhor comissionou seus discípulos para serem testemunhas em todo o mundo (Mt 28.18-20), afirmou que toda a autoridade havia sido dada a ele e depois disso ordenou “ide, portanto, pregai o evangelho...”.

Não é necessário explicar que a palavra “portanto” é uma conjunção que significa “conseqüentemente”, ou seja, Jesus estava dizendo que como conseqüência de ter toda autoridade ele poderia enviar os discípulos por todo o mundo a fazer novos discípulos.

Ao olhar, entretanto, para o que tem acontecido no meio evangélico em nossos dias, fica claro que muitos têm pregado o evangelho “por tanto”, isto é, por um determinado valor. São abundantes os casos de pastores e preletores que têm cobrado ofertas (o que é uma completa contradição de termos, seria melhor usar cachês) para participar de (lê-se “se apresentar em”) um culto e pregar a Palavra de Deus.

Bem que eu gostaria de acreditar que os que assim procedem o fazem por ter entendido errado o “portanto” de Jesus, pois, se fosse simplesmente um problema de gramática, tudo se resolveria logo que uma explicação sobre o termo fosse dada.

Infelizmente o que de fato acontece é aquilo que Pedro falou tão claramente: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres” – que – “movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (2Pe 2.1a, 3a). Esses falsos mestres são descritos por Paulo como sendo “homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5b).

Além de cobrar para pregar, alguns têm ainda gravado suas mensagens e colocado à venda com o discurso de que é para abençoar o povo de Deus. Será mesmo? Eles não abençoariam mais ao dizer que as mensagens podem ser copiadas e distribuídas? Mas, ao invés disso, colocam nos CDs a advertência de que pirataria é crime. Ainda que eles estejam corretos ao falar da pirataria, penso que isso mostra que a verdadeira preocupação não é com as vidas que supostamente seriam edificadas, mas com o bolso que continua se enchendo de dinheiro e que sofreria bastante caso as mensagens fossem copiadas ao invés de compradas.

É claro que o povo evangélico tem sua parcela de culpa nisso tudo. Ao supervalorizar alguns pastores televisivos e comprar de tudo o que é oferecido em nome de Deus, o “mercado religioso” é aquecido. Infelizmente, a igreja continua criando seus ídolos dia a dia. Se ninguém comprasse, não haveria como vender.

Aos que têm feito comércio com a Palavra, cabe a advertência de Paulo: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores (1Tm 6.6-10).

Acredito que muitos desses que “vendem” a mensagem devem ter começado sinceros, mas acabaram perdendo o foco por amor ao dinheiro, por isso, os que têm procurado honrar a Deus pregando o Evangelho a tempo e fora de tempo, sem pensar em recompensas financeiras, mas tendo em vista a exaltação do nome do Senhor, devem rogar para que ele os conserve íntegros.

A igreja deve obedecer à ordem de proclamar o Evangelho sem nunca se esquecer das palavras do Senhor Jesus: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8).

Milton Jr.

24 comentários:

Anônimo disse...

O pior de tudo é que a imagem "vendida" pela mídia de massa no Brasil é exatamende a desses pastores que tem ido "por tanto".

Milton Jr. disse...

É verdade Ligian, e, no fim das contas, o povo coloca todos os cristãos no mesmo pacote.

Samuel Vitalino disse...

Milton,

Você já recebeu o seu pagamento por esse post?

Se não ainda, aqui vai: Deus te abençoe pela fidelidade, meu amigo.

Aproveito para realçar uma excelente deciosão que o Concílio da IPB tomou nesse último mês: Igrejas como Mundial do Poder de Deus, Universal do Reino de Deus e afins foram consideradas como seitas e não como Igrejas cristãs.

Muito boa a sua coragem, meu velho.

Forte abraço,

Charles Melo disse...

Milton,

Há um texto que tem sido mal interpretado para justificar a cobrança de oferta (sic), que deveria ser chamada de cachê mesmo. É o texto de 1 Timóteo 5.17,18, o qual diz que "devem ser merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, especialmente os que se afadigam na Palavra e no ensino". "O trabalhador é digno do seu salário". Então justificam: "há base na Bíblia para que eu exija a oferta (cachê)". Não é isso. O trabalhador é digno de ser sustentado condignamente. Mas acontece que, se o camarada já recebe salário de sua igreja local e cobra para pregar em algum lugar, aí que mora o perigo. Quer ficar rico mesmo. Por outro lado, as igrejas precisam pensar que a ida de um convidado aos seus limites requer cobertura de suas despesas. Há igrejas que também não observam isso. Geram despesas convidando o ministro, mas depois deixam que o convidado cubra suas próprias despesas alterando seu orçamento individual. Isso também não é justo.

Charles Melo disse...

Milton,

Esqueci de dizer: não cobrei nada para ir a Teresina e não cobrarei quando for à sua igreja (eheheh). O meu CD pode ser copiado à vontade!

Milton Jr. disse...

Samuel,
De fato foi acertadíssima a resolução da nossa amada IPB quanto a essas seitas. Que o Senhor nos mantenha fiéis.

Milton Jr. disse...

Charles,
É muito bom saber que não cobrará... hahaha.
De fato é boa a lembrança de que as igrejas devem custear despesas de locomoção daqueles a quem convida. Não vejo nem problema nas igrejas que ofertam aos pregadores, mas que isso não seja uma imposição, nem a motivação para ser aceitar convites.
grande abraço.

Rev Arnaldo Matias disse...

É triste ainda existir quem cobre para falar do evangelho.

Um dia os pastores presbiterianos serão todos "fazedores de tenda", os missionários serão auto-sustentáveis e as igrejas falarão menos em dinheiro.

Neste mês de missões, podemos ver que, se alguém deveria receber "mais honorários" deveria ser o missionário e não o pastor. Não é assim que acontece.

www.arnaldomatias.com

Charles Oliveira disse...

Milton,

Isso mesmo. O duro é que pode acontecer de alguns pastores tenderem a só aceitar convites se for para pregar em igrejas grandes e ricas, que ele sabe que lhe darão uma boa oferta. Legal é quando ele faz isso e a igrejona não dá nada! eheh

Milton Jr. disse...

Caro Arnaldo,
Creio que você está tocando em outro ponto. Quando menciono os que cobram para pregar o evangelho me refiro àqueles que vivem de igreja em igreja e que têm o seu "ministério" focado nessas preleções, ou àqueles que têm vendido os sermões que pregam em suas igrejas, que já lhes honram com suas côngruas.

No caso do pastor de uma igreja local, a meu ver, o sustento é lícito como bem podemos perceber em textos como o de 1Tm 5.17,18. Vou além e digo que o ideal é que o pastor se dedique de tempo integral ao ministério. É praticamente impossível ter uma "profissão secular" e dar o tempo devido ao pastoreio das ovelhas.

Uma tendência triste que temos visto em nossos dias é a de pastores que recebem das igrejas e ainda querem "fazer tendas" para complementar renda.

Quanto aos missionários, cabe às igrejas sustentá-los, mas isso não precisa e nem deve ser feito às custas da negligência ao mandato bíblico de sustentar seus pastores.

grande abraço e obrigado pela visita.

A Esperança Puritana disse...

Milton,

O "portanto" e o "por tanto" fazem uma diferença enorme. Sacada genial!Continue assim: brincando com as palavras, trasmitindo graça aos que leêm.

A Esperança Puritana disse...

Milton,

O "portanto" e o "por tanto" fazem uma diferença enorme. Sacada genial!Continue assim: brincando com as palavras, trasmitindo graça aos que leêm.

Unknown disse...

Rev. Milton Jr,

Me tranqüiliza muito ler post como esse e perceber que, embora poucos, ainda existem servos comprometido, primordialmente, com o IDE de Jesus.
Parabéns por ser um instrumento afiado nas mãos do Senhor.

OBS: Gostaria de ver um post falando sobre a dedicação integral ao ministério.

A Deus toda a glória!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dirce Holanda disse...

Parabéns pelo tema explanado. Desejamos que os Seminários Presbiterianos zelem pela ética Cristã, em suas grade curricular ou mesmo em tema transversais, para que seminaristas pensem e repessem sua verdadeira convicção para o ministério.
Dirce Holanda

Unknown disse...

Caro Milton,

Excelente post!

A lição do nosso Redentor deve ser observada por todos os ministros da Palavra e dos Sacramentos: Se desejamos imitá-lo no ministério devemos assumir a posição de servos e não de senhores do rebanho que Ele nos confiou (Jo 13). Não devemos levar bolsa ou alforge, mas confiarmos na providência de Deus que sempre socorrerá os pregadores em meio as suas necessidades. Não devemos fazer do ministério fonte de lucro.
Forte abraço!
Alan

Milton Jr. disse...

Naziaseno,
Obrigado pela visita.

JF.,
De fato a questão do ministério de tempo integral é um excelente assunto para um post. Quem sabe saia, se não meu, de um dos meus camaradas...

Dirce,
O ministério é mesmo algo muito sério. Tem muita gente entrando no ministério por "falta de opção" ou porque não deu certo em mais nada. Deus tenha misericórdia.

Alan,
Quando se perde essa perspectiva colocada por você o ministério se torna algo simplesmente "profissional" onde a lei da procura e da oferta aquece o "mercado". Que o Senhor mantenha seus ministros fiéis.

Patrícia Vitalino disse...

Estou gostando de ver o blog.
Parabéns aos que fazem parte dele e que possam espalhar a fé reformada no nosso Brasil.

Anônimo disse...

Vocês parecem que não gostam de dinheiro...

Samuel Vitalino disse...

O problema não é necessariamente o dinheiro, pois ele é necessário para a sobrevivência. O que está sendo denunciado aqui é o que a Bíblia chama de raiz de todos os males, que é o amor ao dinheiro.

O que Paulo diz em II Coríntios é que nós não somos como tantos outros que andam por aí mercadejando a Palavra de Deus.

Charles Melo disse...

Samuel,

É isso mesmo. Como estamos no mundo, precisamos dos recursos daqui para sobreviver, trabalhar, etc. O dinheiro deve ser servo; não o contrário. Aquele que ama o dinheiro se faz servo dele.

Robson Santana disse...

Caros colegas pastores presbiterianos. Estou aqui em São Paulo cursando mesmo modulo do mestrado em Divindade no Jumper com o Pr. Allan Kleber. Achei muito boa a inciativa desse blog e os artigos tb. Até gostaria de saber se posso usar esse post no boletim da minha igreja em Mato Grosso. Rabisco, traduzo, e uso material relevante de outros aqui: www.rrsantana.blogspot.com

Milton Jr. disse...

Caro Robson,
Será uma alegria ter o texto usado por você. Aproveite e ajude-nos a divulgar este espaço. :o)
Grande abraço.

Pr.Gibson Portela disse...

Entendo que existem certos modirmos de temas de pregação e até de questionamentos, hoje nos púlpitos, nos seminários, dentro do ambiênte dito teológico, como se tivessem descoberto a roda e esse tema é um deles. Caros amigos a questão da forma como a pregação do evangelho se faz hoje, se olharmos na história da igreja de uma forma ou de outra sempre a exploração esteve presente, e vai continuar de uma forma ou de outra,inclusive nossas estruturas denominacionais não surgiram do nada pelo menos compreendo que não. O nosso foco deve ser nos explorados, nos aliciados, levando-os à uma forma crítica de ver a fé. será que queremos isso mesmo? O povo está indo buscar essas mentes carcomidas de nada porque nós estamos muito distantes,nós os paladinos da fé, os reis da hermenêutica, estamos literalmente falando grego para a a grande maioria do nosso povo que não sabe ler e quando sabe, não sabe interpretar.
É isto um abraço fraterno