Esta superficialidade se evidencia pelo culto que parece ser configurado para estimular o sistema nervoso e não a mente. O sentir e não o aprender é uma característica em relevo! Realmente em algumas reuniões a adoração deixou de ser um culto racional, para se tornar um momento de excitação emocional (Rm 12:1-2). Não importa entender o que está acontecendo, o que está se fazendo, o que Deus está falando, pelo contrário, os novos adoradores estão querendo extravasar a sua alegria, os seus sentimentos, deixar fluir o seu calor humano! O prazer tomou o lugar do quebrantamento, a liberdade substituiu a reverência e os sentimentos usurparam a posição que o conhecimento tem na vida cristã. James M. Boice e Philip G. Ryken observam que
o que uma vez foi falado das igrejas liberais precisa ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, creêm na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo, e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia torna-se incapaz de alimentar as exigências da vida nestes tempos pós-modernos. Por si mesma, a Palavra de Deus seria insuficiente de alcançar pessoas para Cristo, promover crescimento espiritual, prover um guia prático, ou transformar a sociedade. Deste modo, igrejas acrescentam ao simples ensino da Escritura algum tipo de entretenimento, grupo de terapia, ativismo político, sinais e maravilhas - ou, qualquer promessa apelando aos consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, pecado é meramente uma disfunção e salvação significa desfrutar de uma melhor auto-estima. Quando esta teologia adentra a igreja, ela coloca dificuldades em doutrinas essenciais como a propiciação da ira de Deus substituindo-a com técnicas e práticas de auto-aceitação. A agenda do mundo é a felicidade pessoal, assim, o evangelho é apresentado como um plano para a realização pessoal, em vez de ser a caminhada de um comprometido discipulado. Para terminar, vemos que os métodos do mundo nesta agenda egocêntrica é necessariamente pragmática, sendo que as igrejas evangélicas estão se esforçando a todo custo em refletir o modo como elas operam. Este mundanismo tem produzido o 'novo pragmatismo' evangelicalismo[1].
Em parte a culpa é dos pastores que desejam ser apenas animadores de palco e que se esqueceram, ou não aprenderam, e pior ainda, não querem estudar o que realmente significa o seu verdadeiro chamado como pregador da Palavra de Deus. Conduzem o seu rebanho e os alimentam num culto estilo “louvorzão” para animar o coração duma multidão de adoradores que vão às reuniões para fazer o seu karaokê gospel e satisfazer o seu gosto pessoal. E, nisto tudo há pouco conteúdo da Palavra de Deus sendo cantado, apenas importam os ritmos e movimentos, coreografias sem sentido no mover de véus e luzes coloridas.
A falta de preocupação em se ouvir, alimentar e viver o ensino da Escritura Sagrada está tornando o meio evangélico desnutrido do seu poder, e de sua autoridade espiritual. Em contraproposta chegam novos movimentos, outros modismos com nomes cada vez mais mirabolantes, unções bizarras, invencionices esquisitas e até neologismos de antigas heresias, como por exemplo, bispa, paipóstolos, ou patriarca! E surge agora o porno-gospel justificando-se pela proposta pedagógica de uma sexualidade cristã respeitosa!
Talvez, tão vergonhosa situação explique porque líderes evangélicos vendem não somente a própria alma, e em tempo de eleições, desavergonhados negociam o voto “porteira fechada” da sua igreja com políticos que não são menos corruptos. Ou ainda, talvez, esta situação explique porque os evangélicos, que estatisticamente ainda é o movimento religioso que mais cresce, é também o que menos influencia socialmente. Todavia, o impacto causado por este evangelicalismo em nosso país somente é percebido quando se faz shows, marchas, ou alianças políticas de moral duvidosa.
Há ainda um mercado gospel que move muito dinheiro. Ressurge nestes tempos pós-modernos a prática medieval da simonia! Vende-se de tudo: cargos eclesiásticos em troca de poder; favores políticos em troca de voto; prosperidade financeira no lugar de santidade; e, a lista não termina aí. Objetos que são uma verdadeira macumba travestida de evangelho, em que, sal grosso, galho de arruda, água abençoada, água do rio Jordão, redinha do Mar da Galiléia, toalhinha suja com suor, e uma infinidade de relíquias se multiplicam conforme a ambiciosa imaginação de quem torna a religião uma mercadoria ao gosto do cliente, que procura mestres segundo o seu interesse (2 Tm 4:3-4). A multidão que vai atrás de pão e cura nunca termina.
É muito estranho como parece difícil para o evangelicalismo entender simplesmente o que é o Cristianismo puro e simples segundo a Escritura Sagrada. O assunto em si não é assim tão complicado, o que falta é um comprometido estudo da Palavra, e a necessidade de um pacto com o próprio coração de viver os valores absolutos e inegociáveis dentro da vontade de Deus. Por isso, insisto: não me chamem, nem me confundam como sendo evangélico, pelo menos enquanto este grupo for sinônimo de uma vida movida por uma graça barata e, vazio do antigo evangelho de Cristo Jesus![2]
[1] James M. Boice & Philip G. Ryken, The Doctrines of Grace (Wheaton, Crossway Books, 2002), pp. 20-21.
[2] Para os desavisados de plantão a pintura acima é de Martinho Lutero na Dieta de Worms posicionando-se definitivamente contra a teologia e os desvios da Igreja Católica Roma.
9 comentários:
Eu não sou mais evangélico (2)
Segue mais uma amostra do louvorzão gospel extravagante que tanto cativa o evangelicalismo e muitos dos jovens presbiterianos!
http://www.youtube.com/watch?v=mqvt-rHmTwg
Deus tenha misericórdia de Seu povo em meio a esta confusão e euforia carnal.
Não são só os jovens presbiterianos que são cativados por esse evangelicalismo. Aqui vai um exemplo de uma igreja presbiteriana que apela e muito para o emocional: http://www.youtube.com/watch?v=jsWj-fXRMXU
Mas o mais triste é ver que os nossos líderes (sei que uns poucos têm se mexido) pouco se mexem pra cortar esse mal do nosso meio. Certa vez questionei meu pastor (de uma das igrejas mais tradicionais e conservadoras de BH) se alguém iria fazer algum documento para disciplinar essa igreja especificamente. E a resposta: "Não, isso não vai adiantar de nada." Durante algum tempo, convivi bem de perto com algumas pessoas da liderança nacional da nossa igreja e vejo que eles estão muito mais preocupados em fazer política e em conseguir cargos de status nos Supremos Concílios, do que com as coisas que as igrejas da nossa denominação estão ensinando e da forma como elas estão cultuando.
É uma pena que vocês ainda não tem força suficiente pra enfrentar quem está no poder da nossa igreja. Assim, tenho orado pra que Deus levante mais homens comprometidos como vocês para que vocês tenham cada vez mais força para enfrentar esses "políticos". Precisamos corrigir esses erros enquanto ainda dá tempo, pois seria muito triste termos uma separação na igreja presbiteriana.
Toka,
Só hoje pude ler seu artigo. Que coisa impressionante! Você acertou em cheio! Nossa geração enfatiza mais o sistema nervoso do que a mente! Quero destacar sua frase: "O assunto em si não é assim tão complicado, o que falta é um comprometido estudo da Palavra, e a necessidade de um pacto com o próprio coração de viver os valores absolutos e inegociáveis dentro da vontade de Deus". Aqui está a resposta. Chega de "evangelho" que mistura o certo com o errado. Vamos levantar a bandeira das verdades absolutas da Palavra!
Abraço!
A PAZ DO SENHOR!
Pela saudação já deu para perceber que sou Assembleiana; pois, infelizmente a centenária Assembléia de Deus está no mesmo barco: A nau dos insensatos; por isso, também sinto-me deveras incomodada quando sou "confundida" com os atuais evangélicos/góspi da moda. Faço minhas as suas palavras: "Não sou mais evangélica."
Dione, "assembleiana do pé roxo."
Sai da Assembléia de Deus e comecei a freqüentar a IPB para deixar de ser evangélico e ser cristão reformado, tive várias experiências onde as pessoas afirmam que o certo deve ser sentido, freqüentemente ouvia "tenho sentido de Deus" ou "assim diz o Senhor" e depois vinha histórias sem comprovação bíblica ou mentiras sobre a minha vida.
Hoje, tenho aprendido a cada dia, quero aprender sobre a palavra de Deus, independentemente se estou sentindo algo ou não, a bíblia é suficiente para nossas vidas.
Que Deus possa retirar as venda dos olhos de nosso meio.
Por mais estarrecedor que o uso do termo tenha se tornado, ainda me vejo como evangélico. Mesmo um católico é evangélico (guardadas as questões controvertidas com a Reforma Protestante), porque o evangélico proclama o Novo Testamento, as Boas Novas profetizadas por Isaías e Miquéias e confirmadas em Cristo. Prefiro chamar esses "crentes" corruptos de pseudoevagélicos.
Daniel Subkoff
DEUS seja louvado.Graca e paz no nome Santo de Jesus,meu querido,como e bom!muito bom ler estas palavras e ouvir o Espirito SAnto de DEUS falar aos nossos coracoes,uqe bom que ainda existe pessoas com este pensar,como e dificil encontrar pessoas com este aspecto de vida,siguindo somente a palavra.Gostei muito destas palavras pois eu tenho o mesmo conceito sobre as igrejas de hoje,que usam de maneira corruptas pra manipular os fieis,como:se vc nao der o dizimo do Senhor vc vai pro inferno!!!como isso? se o sacrifio fez o Senhor Jesus na cruz,entao se nos sacrificarmos,invalidamos o sacrifio de Jesus naquela cruz,e ele veio aqui fazer oque?se envalidamos o seu feito?todos que usam deste dizimo invalida o cordeiro Jesus na cruz.kikosmartins@hotmail.com
Eu creio que posso concordar com a primeira parte do seu comentário, e acho muito justo esta sua manifestação, a qual eu com certeza assinaria embaixo, porém não posso concordar com esta atitude de rebeldia em não querer mais ser evangélico, pois o evangelho faz parte daqueles que realmente fazem parte desta nova história de vida; Em Rm 12, o apóstolo diz para que a gente não se conforme com o que está acontecendo porém ele não diz: " parem de ser evangélicos", muito pelo contrário, devemos ter atitudes de renovação espiritual e tomarmos cuidado com aquilo que falamos, pois podemos formar negativamente opiniões que provavelmente podem abalar a fé de alguns que ainda estão galgando os primeiros passos da fé "evangélica".
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