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2 de setembro de 2010

Motivos, emoções e idolatria

marionete-2

Certa vez me perguntaram se no céu teríamos lembrança daquilo que ocorreu em nossa vida e das pessoas que conhecemos. Sei que esse é um assunto controverso e que há posições bem diferentes, mas no meu entender não sofreremos de amnésia, lembraremos de tudo, sim. Ouvi como resposta que se for desse jeito ficaremos tristes no céu. A razão é que, lembrando de tudo, vamos saber caso algum parente nosso não esteja lá e certamente isso nos entristecerá.

Enquanto escrevo estas primeiras linhas, vem à minha mente uma conversa que tive com uma amiga, bem no começo da minha caminhada cristã. Na ocasião discutíamos a afirmação de um pregador que havia dito que homens de cabelo comprido não iriam para céu. Como ela pertencia a uma igreja que confundia “usos e costumes” com a própria Escritura, a conversa acabou girando em torno dos tais. No fim perguntei se eu, não observando os mesmos “costumes” que ela, mas crendo em Cristo, poderia ir para o céu e ouvi: “até pode ir, mas vai ficar com inveja porque meu galardão será maior”. Como novo convertido, limitei-me a responder que não iria para o mesmo céu que ela, pois para o que iria não haveria pecado.

Minha intenção neste post não é tentar provar se no céu haverá lembrança de tudo, tampouco discutir se homens podem ou não ter as madeixas crescidas, mas analisar como nossos sentimentos e motivações são afetados pelo pecado, por isso as duas histórias foram citadas.

A Escritura ensina que o homem foi criado para que Deus seja glorificado (Rm 11.36; 1Co 10.31) e nos instrui também de que o verdadeiro prazer, alegria, satisfação, esperança, segurança, etc. somente podem ser encontrados nele (Sl 73.25,26; Sl 1.2; Sl 16.11; Sl 18.2). Tanto é assim que no primeiro mandamento o Senhor ordena: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3), ou seja, nossa motivação deveria ser sempre a glória de Deus e o relacionamento com ele deveria satisfazer todos os nossos anseios.

Com a queda, o homem passou a buscar prazer em coisas e pessoas, aprovação dos homens e sua motivação se tornou egoísta. O problema é que sempre que dependemos de qualquer coisa ou pessoa para ser felizes, seguros ou plenamente realizados, estamos quebrando o primeiro mandamento e somos culpados pelo pecado da idolatria. Podemos voltar então aos exemplos citados no início para ver de forma prática o quanto o pecado aflige e distorce a vontade de Deus para a vida do homem.

No primeiro caso a alegria no céu está vinculada ao fato de ter os entes queridos também por lá, a ponto de achar que se lembrarmos de algum que não foi salvo (caso seja verdadeira a afirmação de que no céu teremos lembrança de tudo) ficaremos tristes, o que demonstra que a presença bendita do Senhor e a comunhão plena com ele ficariam ofuscadas de tal modo que não conseguiríamos estar alegres.

No segundo exemplo verificamos que a motivação para cumprir determinadas práticas não era glorificar ao Senhor, mas ganhar mais galardão e, por que não, o medo de ficar triste e invejar aqueles que ganharão mais.

É claro que não são somente as pessoas das histórias citadas que sofrem com os efeitos do pecado. Cada um de nós, membros da raça humana, caídos em Adão, padece os mesmos problemas.

Isso explica o porquê de muitas vezes pecarmos simplesmente para ser aceitos por homens, para ser bem vistos. Explica também o fato de muitas vezes sermos controlados pelo que as pessoas vão pensar, numa motivação totalmente egoísta. Você se lembra de Pedro afastando-se dos gentios com quem comia, pois temia o que “os da circuncisão” iam achar (Gl 2.11ss)?

Diante do que foi exposto devemos dar ouvidos à exortação do apóstolo João: “Filinhos, guardai-vos dos ídolos”, e verificar que ela vem logo após a afirmação de que estamos no verdadeiro Deus: Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20-21).

Que creiamos nisso de todo o coração e aprendamos a estar plenamente satisfeitos em Deus, motivados a fazer todas as coisas somente para a sua glória.

Milton Jr.

12 comentários:

Charles Melo disse...

Milton,

Seus artigos tem me edificado muito. Interessante como o egoísmo impera na formulação de certas crendices de crentes que, mesmo sem má intenção, acabam postulando regras e dogmas sem o menor cabimento. Sola Scriptura!

Abração!

Samuel Vitalino disse...

"De tudo o que se deve guardar, guarda o coração, pois dele é que procedem os maus desígnios".

Obrigado pelo post Miltão,

Unknown disse...

Ler,ouvir e refletir palavras sábias porque estão fundamentadas nas Escrituras deve ser um exercício constante para o crente.

Louvo ao Senhor pelo privilégio de aprender lendo, ouvindo e refletindo o que você escreve sobre Cristo e sua Palavra, meu caro amigo e irmão.

Forte abraço!

Milton Jr. disse...

Charles,
Obrigado pelo incentivo.
grande abraço.

Milton Jr. disse...

Samuel,
De fato. A Escritura nos ensina que o que controla o coração controlará o homem. Deus nos guarde sempre.
grande abraço.

Milton Jr. disse...

Alan,
Obrigado pelas palavras.
grande abraço.

A Esperança Puritana disse...

Milton,

“Cor meum tibi offero, Domine, prompte et sincere” (O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero). Esse é o dístico calvinista favorito, que sempre me convida a refletir.

Tiago Cesar Nascimento disse...

Esse é um post muito verdadeiro e profundo. É impressionante como os mandamentos de Deus são bastante extensivos em suas aplicações e se posicionam de forma tão prática às nossas vidas. Essa percepção da verdade nua e crua é a que realmente importa se queremos viver um cristianismo de fato, amar a Deus com todo o nosso ser... Que Deus abençoe os irmãos e às suas congregações!

eduardo ferraz disse...

Caro Amigo
Saudações

Muiiito bom!
Nossos deuses nos dominam, e muitas vezes pensamos que nos os dominamos.
Viver no centro da vontade de Deus e não da nossa, é o nosso grande desafio e prova de fé.
Parabéns!
Grande abraço.
Fraternalmente em Cristo,

Eduardo Ferraz

Milton Jr. disse...

Naziaseno, Tiago e Eduardo,
Obrigado pelos comentários. Que o Senhor nos conceda a bênção de guardar o nosso coração, sabendo que dele procedem as saídas da vida.

Grande abraço.

Ana Carolina disse...

Olá Rev. Milton
Antes, devo me apresentar: tivemos a oportunidade de nos conhecermos na Conferência de Aconselhamento Bíblico do SBPV. Sou membro da IPB Poá-SP, onde o Rev. Jônatas Abdias pastoreia.
Semana passada, uma pessoa fez um comentário semelhante ao citado no seu post, que ela crê que no céu não nos lembraremos das pessoas que estiveram conosco nesta vida, pois do contrário ficaremos tristes ao não encontrar algumas delas lá. Respondi que creio diferente, mas que o cerne da questão é amar a Deus sob tudo e todos e, que o fato de algumas pessoas não estarem lá, não ofuscará o gozo de estar eternamente com o Senhor Jesus.
Foi realmente muito bom ler o seu texto!
Como Paul Tripp cita em seu livro "Instrumentos nas Mãos do Redentor", tanto a idolatria secreta como a pública são abomináveis diante do Deus Santo e verdadeiro. Que guardemos os nossos corações contínua e diligentemente contra a idolatria por meio da Palavra viva e eficaz do Senhor!
Rogo que o sr. continue a ser usado como instrumento abençoador!
Abraços e até!

Milton Jr. disse...

olá Carol,
Que bom te "ver" por aqui. Não precisava se apresentar, lembro-me perfeitamente de você e dos demais membros da IP Poá presentes na Conferência de Aconselhamento.
Inclusive, vocês estão me devendo aquela foto que tiramos juntos.. rs, não esqueci..
Um grande abraço,

Milton jr.